Economia

Chiquita Brands cunhou a expressão ‘República de Bananas’

United Fruit Company foi citada em romance de García Márquez

RIO - Fundada em março de 1899, a partir de várias fusões de empresas do setor de importação de bananas, a United Fruit Company — hoje Chiquita Brands International — foi a primeira grande multinacional americana a se expandir pela América Latina e o Caribe e a exercer uma forte influência política e econômica nos países da região. Sua relação com os governos locais e seu vínculo com a CIA (serviço de inteligência americano) na defesa de interesses comerciais e políticos dos Estados Unidos impregnaram o imaginário latino-americano.


Bananas da Chiquita Brands: histórico da companhia na América Latina é marcado por críticas e controvérsias
Foto: Simon Dawson / Bloomberg/15-8-2014
Bananas da Chiquita Brands: histórico da companhia na América Latina é marcado por críticas e controvérsias Foto: Simon Dawson / Bloomberg/15-8-2014

Em “Cem anos de solidão”, por exemplo, o escritor colombiano Gabriel García Márquez (Gabo), em referência indireta à United Fruit, descreve a chegada da empresa “BananaCompany” a Macondo como um evento de proporções bíblicas: primeiro como uma benção, e em seguida como uma maldição.

“Dotado de meios, reservados em outras eras à Divina Providência”, escreveu Gabo, a BananaCompany “mudou os padrões de chuva, acelerou o ciclo das colheitas e transferiu o rio do lugar onde sempre esteve”. A empresa importou “ditadores estrangeiros” e “contratou assassinos com machetes” para dominar a cidade e provocou uma chuva de balas contra trabalhadores em greve. Quando, enfim, a companhia das bananas foi embora, a cidade estava em ruínas.

Macondo representa não apenas Aracataca, a cidade natal de Gabo, mas toda a América Latina, onde muitos outros escritores, músicos e artistas de esquerda retrataram a empresa como símbolo do imperialismo americano. Entre eles, o poeta chileno Pablo Neruda, e a escritora costa-riquenha Carmen Lyra.

GOLPE NA GUATEMALA

Em muitos sentidos, a United Fruit representou o arquétipo do neocolonialismo multinacional na América Latina. Dela provém o conceito de “República de Bananas”, metáfora usada para descrever a sucessão de governos da região ao longo do século XX: quase sempre corruptos e autoritários. Apelidada de “polvo”, evocando a ideia de tentáculos, a empresa foi transformada por grupos de esquerda em símbolo de desigualdade e exploração.

Peter Chapman, autor da mais recente história da companhia, afirma que a empresa dominou grandes nacos em quase uma dúzia de países do Ocidente, tornando-se “mais poderosa do que muitos estados nações”. A United Fruit foi frequentemente acusada de oferecer propina a autoridades governamentais, explorar seus trabalhadores, e de atuar implacável e vorazmente para consolidar uma posição de monopólio na região.

A empresa foi acusada inclusive de patrocinar, com auxílio da CIA, golpes para derrubar governos democraticamente eleitos para proteger seu monopólio. Este foi o caso de Jacobo Arbenz Guzmán, presidente da Guatemala entre 1951 e 1954. Considerado progressista, ele tentou implementar uma reforma agrária, contrariando os interesses da companhia. Acusado de comunista, Arbenz foi deposto no primeiro golpe organizado pela CIA na era da Guerra Fria na América Latina.

A pré-história da United Fruit remonta a 1870, quando o empreendedor Henry Meiggs e seu sobrinho Minor Copper Keith, investiram num projeto de construção de uma ferrovia na Costa Rica, ligando San Jose a Puerto Limon. Para baratear o custo de alimentação dos operários, que trabalhavam em condições penosas na floresta tropical, foram plantadas bananeiras ao longo da ferrovia.

Após a conclusão da obra, que deixou um saldo de quase cinco mil operários mortos, inclusive Meiggs, a ferrovia se mostrou pouco lucrativa, devido à falta de demanda. Keith então resolveu aproveitar a obra para transportar as bananas da propriedade, dando início a um lucrativo negócio.

A companhia foi ampliando sua atuação para vários setores vitais da economia, como o de correios e telégrafo na Guatemala, e absorvendo empresas rivais. Em 1930, a companhia havia consolidado sua posição dominante na região. Em 1970, sem a mesma influência do passado, a United Fruit se uniu à AMK, de Eli Black. Nascia então a United Brands Company. Quatorze anos depois, ela foi rebatizada, ganhando seu nome atual: Chiquita Brands International.