ROMA - Mesmo em meio à crise econômica mais longa desde a Segunda Guerra Mundial, os italianos fãs da boa comida têm algo para comemorar: trufas, muitas delas. Os preços da trufa branca do país, considerada uma iguaria de Nova York a Moscou, caíram cerca de 37% neste ano porque chuvas excepcionalmente fortes no verão geraram um volume recorde de fungos. A produção neste ano foi 30 % maior do que no mesmo período de 2013, segundo o Centro Nacional de Estudo de Trufas, e cem gramas estão custando cerca de € 220 contra € 350 no ano passado e € 500 em 2012.
— Tivemos uma boa colheita neste ano devido ao verão chuvoso — disse Giovanni Monchiero, que colhe trufas há 45 anos e administra uma escola que ensina cães a farejarem os cobiçados fungos em Roddi, cidade na região noroeste da Itália.
É uma boa notícia num país onde a maior parte das manchetes econômicas são deprimentes. Com dívida pública superior a € 2 trilhões de euros, a Itália está em dificuldades: deverá registrar contração de 0,3% neste ano, segundo projeções do governo. O desemprego entre os jovens italianos está em uma alta recorde de 44,2%.
Em meio ao pessimismo e à angústia, a delicada e aveludada trufa branca (Tartufo Bianco) se tornou uma rara fonte de prazer que remete a dias melhores. Celebradas por Cícero e Plutarco, as trufas são uma iguaria sazonal, tradicionalmente disponíveis entre outubro e dezembro. Os fãs usam cachorros para procurar os tubérculos, que crescem nas raízes de árvores como o carvalho e a faia. As trufas brancas são geralmente raladas cruas sobre o prato, diferentemente da variedade negra, mais barata, que geralmente é cozida.
Na Itália “nós estimamos que o negócio está avaliado em € 400 milhões de euros, incluindo a trufa negra”, disse Mauro Carbone, diretor do Centro Nacional de Estudo de Trufas, em entrevista na feira anual de trufas em Alba, na região de Piemonte, que estará aberta até 16 de novembro.
NO PRATO DOS EMERGENTES
Trufas brancas foram servidas em um jantar entre o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi e seu amigo de longa data, o presidente russo, Vladimir Putin, na semana passada. O encontro ocorreu da 1h às 3h45 da manhã na residência de Berlusconi em Milão, disse Deborah Bergamini, porta-voz do ex-líder italiano. Eles conversaram sobre um amplo leque de assuntos, incluindo a crise da Ucrânia e as sanções comerciais, enquanto comiam talharim com trufas brancas de Alba e ovos fritos com trufas raladas, disse Bergamini, que participou do jantar.
Os colhedores e os negociantes de trufas da Itália agora querem levar seu amor pelos fungos ao exterior com a esperança de que um número cada vez maior de ricos dos mercados emergentes passe a gostar da iguaria, oferecendo a eles, assim, um impulso extra na demanda.
— Mercados emergentes, como Brasil, China, Índia e Vietnã, serão muito interessantes para nós — disse Alessandro Bonino, cuja loja em Alba vende trufas e outras especialidades alimentares locais. — Eles verão na trufa branca o que veem hoje no caviar.