18/04/2015 07h27 - Atualizado em 18/04/2015 07h32

Famílias atingidas pela dengue em SP contabilizam prejuízos com doença

Doença se alastra e contamina membros de uma mesma família.
Sem forças, vítimas se ausentam do trabalho e escola.

Tatiana SantiagoDo G1 São Paulo

O casal Leandro e Celia sofre as consequências da dengue (Foto: Tatiana Santiago/G1)O casal Leandro e Celia sofre as consequências da dengue (Foto: Tatiana Santiago/G1)

A rotina de famílias que vivem na capital paulista e região metropolitana têm sido afetadas pelo vírus do Aedes aegypti, o mosquito da dengue. Além do mal estar provocado pela doença, as vítimas são obrigadas a alterar o cotidiano e ainda enfrentam diversos tipos de prejuízos.

A dengue, que avança de forma rápida na cidade de São Paulo, já deixou quatro mortos em 2015. São 8.063 casos confirmados neste ano contra 3.183 no mesmo período de 2014.

No estado, a situação é ainda pior e já existe uma epidemia da doença, segundo o Ministério da Saúde. A incidência na capital é de 70 casos por 100 mil habitantes na capital, enquanto que, no estado, está em cerca de 585 por 100 mil habitantes.

 

Um casal que mora na Vila Aurora, na Zona Norte de São Paulo, está doente há pelo menos 5 dias. O mecânico e operador de máquina Leandro Cutis Gonçalves, 41 anos, e sua mulher, a bancária Celia Maria Barbosa Soares, de 47 anos, estão com dengue e pegaram a doença simultaneamente.

Gonçalves começou a sentir os sintomas na última sexta-feira (10). Apesar da indisposição, foi trabalhar no sábado (11), mas teve que deixar o serviço algumas horas depois.

"No sábado pela manhã fui trabalhar, quando deu 11h não aguentei de dor no corpo e voltei. Caí na cama com febre”, conta ele, que teve febre alta por dois dias consecutivos. Apesar de a temperatura ter diminuído na quinta-feira (16), ele ainda sofria com dores pelo corpo e muita fraqueza.

Estou com um prejuízo gigantesco. Eu trabalho por diária, ganho por dia trabalhado. Já perdi uns R$ 6 mil, estou preocupado por as contas não esperam"
Leandro Cutis Gonçalves,
mecânico e operador de máquina

Sem trabalhar há uma semana na construção de uma termoelétrica em um aterro sanitário, ele contabiliza o prejuízo.

“Estou com um prejuízo gigantesco. Eu trabalho por diária, ganho por dia trabalhado. Já perdi uns R$ 6 mil, estou preocupado por as contas não esperam”, contou.

A neta e avó foram contaminadas pelo vírus da dengue no mesmo período (Foto: Tatiana Santiago/G1)A neta e avó foram contaminadas pelo vírus da
dengue  (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Sua ausência também provocou prejuízo à empresa responsável pela obra, já que os operários estão parados por causa da falta de um profissional especializado em operar o trator que o mecânico dirige. “Estão ligando toda hora atrás de mim, mas não tenho forças para ficar em pé”, lamentou.

Celia começou a sentir os sintomas no sábado à tarde enquanto passeava pelo shopping. “Cheguei em casa com 39º C, não conseguia ficar em pé, estava com muita dor no corpo, dor de cabeça. Tive febre alta por quatro dias seguidos”, disse a bancária. “Não consigo comer, apenas frutas leves.”

Apesar de a bancária estar afastada do serviço após passar por cirurgias na mão e antebraço na tentativa de aliviar as dores da síndrome do túnel do carpo, a dengue a deixou ainda mais debilitada. Celia deixou, então, de fazer suas atividades diárias.

“Eu parei de ajudar meu filho a estudar, não consigo. Eu passo o dia inteiro deitada, acabada. Dá vontade de chorar”, conta ela. Celia também não consegue ficar de pé para preparar as refeições, e seu filho de 12 anos, que não contraiu a doença, alimenta-se na casa da avó paterna.

Na casa da estudante Gabriela dos Santos Ferreira, de 18 anos, no bairro Jardim Acácio, em Guarulhos, na Grande São Paulo, toda a família contraiu a doença.

“Eu comecei a sentir muito frio. No dia seguinte vieram as dores pelo corpo e cabeça e febre. É uma coisa horrível, uma sensação que não consigo ficar em pé”, disse a jovem. Com manchas pelo corpo, ela passou a tomar líquidos para se hidratar.

Irmãos que pegaram dengue ficam sob os cuidados da avó (Foto: Tatiana Santiago/G1)Irmãos que pegaram dengue ficam sob os
cuidados da avó (Foto: Tatiana Santiago/G1)

Sem condições de sai de casa, ela perdeu aulas por mais de dez dias. “Essa semana foi de prova, então me prejudicou. O fato de eu ter faltado duas semanas na faculdade, eu não sabia resolver as questões. Foi muito difícil”, relatou.

Enquanto Gabriela estava deitada de um lado, sua avó, a dona de casa  Maria Ferreira dos Santos, de 66 anos, ficou largada em outro canto da casa.

“Passei uma semana sem comer, não dava fome. Febre de 40؟C. Não conseguia fazer nada, a gente fica muito fraca”, conta.

O tio de Gabriela, um caminhoneiro de 37 anos, também pegou dengue e ficou alguns dias sem trabalhar. No entanto, ele teve que retornar ao trabalho antes de se recuperar totalmente, já que trabalha como profissional autônomo.

Em um bairro próximo de Guarulhos, no Cocaia, os irmãos Diego Generoso, de 13 anos, e Juliana Generoso, de 17 anos, estão em casa há mais de uma semana. Eles dividem os cuidados da avó, a dona de casa Araci Portela, de 57 anos, com outros seis irmãos.

“Eu acordei de manhã morrendo de tanta dor de cabeça e parecia que tinha levado uma surra de alguém, meu corpo estava doendo demais”, disse Juliana. No último ano do Ensino Médio, a jovem está perdendo aulas importantes para seu futuro.

“Estou perdendo muita matéria, porque é o último ano e como vou fazer vestibular serei prejudicada”, diz a aluna que pretende cursar direito. “Eu vou ter que conversar com os professores para recuperar a matéria e fazer outra atividade para recuperar a nota.”

Em uma tenda da dengue, na AMA/UBS Vila Palmeiras, na Freguesia do Ó, Zona Norte da capital, a dona de casa Maria Morais Fernandes, de 37 anos, esperava passar por uma consulta médica para saber se continuava doente.

“Parecia que estava com sarampo”, contou ela sobre as manchas vermelhas que surgiram em seu corpo. Seu marido, que trabalha como zelador, também foi contaminado pelo vírus e ficou 8 dias afastado do serviço.

Dona de casa espera atendimento em tenda da dengue na Zona Norte de SP (Foto: Tatiana Santiago/G1)Dona de casa espera atendimento em tenda da dengue na Zona Norte de SP (Foto: Tatiana Santiago/G1)

 

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