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Brasileira sensação do MMA empacotava papel higiênico antes de ser campeã

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

20/01/2015 12h00

O rosto de menina, o sorriso meigo e o tamanho, com apenas 1,50 m de altura, podem fazer difícil acreditar que a mineira Herica Tiburcio é a nova sensação do MMA feminino. Mas, desde que ela bateu a campeã Michelle Waterson e tomou seu cinturão do Invicta – maior evento só para mulheres do mundo -, a lutadora peso átomo provou seu valor. Com apenas 22 anos, tornou realidade uma carreira iniciada despretensiosamente, enquanto parte do seu condicionamento físico era feito no trabalho braçal que exercia em uma fábrica de papel higiênico.

Se hoje Herica pode viver apenas dos treinos, a realidade era mais complicada em sua adolescência. Natural de Toledo (MG), ele conheceu as lutas em Bragança Paulista, copiando os irmãos, que praticavam jiu-jítsu. Depois, passou ao muay thai e então chegou ao MMA. Mas demorou muito para que ela visse tudo isso como uma carreira.

Era preciso trabalhar para conseguir seu dinheiro, e em parte da adolescência Herica fazia serviços na academia em que treinava. O local possuía uma lan house, que ficava sob seu comando, além de ainda ser uma espécie de secretaria da academia. Depois deste emprego é que surgiu a fábrica de papel higiênico.

“Trabalhei nesta empresa, na linha de produção”, conta ela, detalhando a função. “Os pacotes com os rolos de pepel higiênico passavam pela esteira e nós pegávamos esses fardos, que eram pesados, para montar os racks de ferro.”

O problema é que a pequenina garota já treinava, mas ainda não era forte como atualmente. O tamanho também era um complicador. “Era um trabalho muito ruim. Eu já treinava, mas ainda trabalhava 12 horas nesta empresa. Os rack eram muito altos, às vezes eu não conseguia colocar e travava a esteira... Nossa, levava muita bronca”, ri Herica, que garante. “É melhor treinar e apanhar no ringue, do que aquele trabalho.”

Mas estes dias ficaram para trás, assim como os de dançarina. Antes de virar lutadora, ela tinha um grupo de dança de rua e gostava de coreografar passos de black e hip hop. Com sua evolução no muay thai e no jiu-jítsu, seu técnico a convidou para tentar a sorte no MMA. Foi preciso certa insistência. Herica considerava a modalidade agressiva demais e nunca tinha se imaginado trocando golpes. Mas, logo na primeira vez em que tentou, apaixonou-se e não parou mais.

A estreia profissional aconteceu em maio de 2011, com vitória por finalização em 56 segundos. Ela enfileirou cinco rivais antes de conhecer duas derrotas, para Camila Lima e Claudia Gadelha, hoje do UFC, mas agora soma mais quatro triunfos. No total, são nove vitórias, sendo sete por finalização.

E, mesmo com este cartel, o resultado no fim de 2014 pelo Invicta, em sua estreia pela organização, pegou muitos de surpresa. Waterson foi campeã em abril de 2013 e defendeu o cinturão uma vez. Era considerada uma das grandes estrelas da organização feminina. Mas não resistiu ao jogo de Herica. Foi pega em uma guilhotina no terceiro round e bateu.

“Eu estava muito bem para esta luta. Nunca tinha batido 47 kg (peso átomo), lutava no até 52 kg. E mesmo sendo a primeira luta, não senti dificuldade, estava muito bem na pesagem e no dia do combate”, explica ela. “Independentemente de tudo, eu sempre entro no ringue com o pensamento de que aquela noite é a minha noite. Foi uma luta excelente, eu estava com muita garra para vencer e meu jiu-jítsu funcionou.”

A vitória e a festa ainda tem seus desdobramentos. Herica foi eleita a melhor lutadora brasileira do ano pelo Prêmio Osvaldo Paquetá e ainda recebe amigos querendo ver de perto seu cinturão.

“Foi demais todo mundo querendo ver o cinturão, indo lá em casa. Os amigos, o pessoal da academia, ficou todo mundo muito feliz. E na rua também as pessoas me reconhecem, não sou mais a Herica, sou a Herica Tibúrcio, campeã”, comemora. Sobre o futuro, o UFC está na mira, mas ainda como objetivo a longo prazo. “Quero me manter invicta e seguir lutando e defendendo meu cinturão. Se for para estar no UFC no futuro, eu vou estar.”