31/08/2015 10h30 - Atualizado em 31/08/2015 14h52

Ex-ministro José Dirceu fica em silêncio na CPI da Petrobras

Deputados estão em Curitiba para ouvir investigados da Lava Jato.
Outros quatro convocados também optaram por ficarem calados.

Rosanne D'Agostino Do G1 PR

O ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu decidiu permanecer em silêncio nesta segunda-feira (31) e não responder a nenhuma pergunta dos deputados da CPI da Petrobras, que estão em Curitiba para ouvir presos da Operação Lava Jato. Além de Dirceu, os outros quatro presos convocados também ficaram calados.

Dirceu foi detido durante a 17ª fase da operação e foi o primeiro a ser ouvido no auditório da Justiça Federal. “Seguindo orientação do meu advogado, vou permanecer em silêncio”, afirmou aos parlamentares, a cada pergunta feita. Ele foi questionado pela CPI ao lado do advogado Roberto Podval durante 20 minutos. Em seguida, foi liberado.

Dirceu é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF) como o responsável pela instituição do esquema bilionário de fraude, corrupção, desvio e lavagem de dinheiro na Petrobras. O advogado do ex-ministro afirma que o petista é um "bode expiatório" da operação e que a prisão dele tem "justificativa política".

Seguindo orientação do meu advogado, vou permanecer em silêncio"
José Dirceu, ex-ministro preso pela Lava Jato

Delação
Entre as perguntas feitas a Dirceu, os deputados questionaram se ele fará delação premiada e se ele seria o líder de um esquema de corrupção na estatal. A resposta foi a mesma a todas as questões.

A comitiva de deputados deve ficar na capital paranaense até quinta-feira (3) para, além de ouvir os presos, fazer acareações entre eles. As sessões serão realizadas às 9h. Acompanhe.

Esta é segunda vez que os parlamentares vão a Curitiba para ouvir investigados que estão detidos na cidade. A primeira vez foi em maio.

Silêncio
Assim como o ex-ministro, os demais presos da Lava Jato que foram convocados para este primeiro dia de oitivas ficaram calados.

João Antônio Bernardi Filho, funcionário da empresa italiana Saipem, também decidiu ficar em silêncio. Ele responde a processo junto do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, acusado de se beneficiar do esquema de propinas.

Entre as provas, está o roubo de R$ 100 mil de Bernardi, que estaria a caminho da Petrobras para repassar o valor a Duque. Um dos deputados chegou a perguntar se Bernardi achava que ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, arrancando risadas do investigado.

Otavio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, também decidiu permanecer em silêncio, mesmo se a sessão fosse fechada. Ele virou réu após a 14ª fase da Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro.

Jorge Luis Zelada, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, foi questionado pelos parlamentares sobre a origem de 11 milhões de euros que seriam mantidos por ele em Mônaco e as delações de Pedro Barusco. Ele também não respondeu a nenhuma pergunta.

Elton Negrão de Azevedo, diretor-executivo da Andrade Gutierrez, foi o último chamado e também informou que permaneceria em silêncio sob orientação de seu advogado.

O silêncio de todos os presos causou irritação dos membros da comissão, que falaram em adiantar depoimentos dos dias seguintes e até em mudar a lei.

José Dirceu (Foto: Giuliano Gomes/ PRPRESS)José Dirceu foi o primeiro convocado da CPI nesta segunda-feira (31) (Foto: Giuliano Gomes/ PRPRESS)
 

17ª fase
Deflagrada no dia 3 de agosto, esta etapa da Lava Jato foi batizada de "Pixuleco" porque, segundo a PF, era o termo usado pelo ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) João Vaccari Neto, preso na fase anterior da operação, para falar sobre propina.

Segundo o Ministério Público Federal e a PF, Dirceu participou da instituição do esquema de corrupção da Petrobras quando ainda estava na chefia da Casa Civil, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-ministro "repetiu o esquema do mensalão", conforme  o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. "Não é à toa que o ministro do Supremo disse que o DNA é o mesmo. Nós temos o DNA, realmente, de compra de apoio parlamentar – tanto pelo Banco do Brasil, no caso do mensalão, como na Petrobras, no caso da Lava Jato."

Dirceu foi "instituidor e beneficiário do esquema da Petrobras", mesmo durante e após o julgamento do mensalão, conforme o procurador.

Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão do ex-ministro, também foi preso na 17ª fase da operação. Ele foi solto dias depois por determinação da Justiça, já que sua prisão era temporária – com prazo de cinco dias.

Já a prisão de Dirceu é preventiva, ou seja, por tempo indeterminado. Ele está preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.

Evolução do patrimônio
Um laudo da PF concluiu que Dirceu e o irmão dele tiveram uma evolução de patrimônio incompatível com os ganhos que declararam à Receita Federal. O documento cita depósitos e registro de lucro da empresa sem comprovação da origem do dinheiro.

Por meio de nota, a defesa do Dirceu informou que "ainda não avaliou o laudo, porém reitera que, de acordo com a quebra dos sigilos fiscal e bancário em março, todas as receitas da JDA [a empresa do ex-ministro] haviam sido declaradas à Receita Federal e que a evolução patrimonial dos sócios sempre foi condizente com os resultados financeiros da empresa de consultoria."

17ª fase da Lava Jato_VALE ESTE (Foto: Arte/G1)