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Presidente sul-coreana é destituída após aprovação de impeachment

Em escândalo de corrupção, Park se desculpa e diz esperar solução para crise política
Presidente da Coreia do Sul Park Geun-hye sofreu série de protestos no seu país
Foto: CHRIS WATTIE / REUTERS
Presidente da Coreia do Sul Park Geun-hye sofreu série de protestos no seu país Foto: CHRIS WATTIE / REUTERS

SEUL — O Parlamento da Coreia do Sul aprovou nesta sexta-feira o processo de impeachment da presidente Park Geun-hye, envolvida em escândalos de corrupção e tráfico de influência, suspendendo assim seus poderes. O impeachment foi aprovado por 234 votos a favor e 56 contrários. Logo após a votação, ela pediu desculpa ao país por "negligência" e disse esperar que a confusão em torno da crise política no país seja resolvida, acrescentando que ela se prepararia para uma revisão judicial do processo de afastamento.

A Corte Constitucional irá a partir de agora decidir se confirma o impeachment de Park ou se rejeita o pedido do Parlamento, controlado pela oposição. O primeiro-ministro do país, Hwang Kyo-ahn, assumiu o posto de Park interinamente, durante o período de julgamento no tribunal, que pode levar até 180 dias.

Kyo-ahn afirmou que faria o seu melhor para garantir um governo estável capaz de funcionar. E ainda pediu que autoridades financeiras tomassem medidas preventivas para evitar volatilidade nos mercados.

A presidente, de 64 anos, pediu desculpas ao povo em uma reunião com seus ministros e os exortou a trabalhar com o premier para evitar qualquer vácuo nas questões de segurança nacional e da economia.

Para além de provocar instabilidade política dentro do próprio país, o impeachment da presidente da Coreia do Sul deixa apreensiva uma região do planeta obrigada a conviver com a instabilidade e as ameaças da vizinha Coreia do Norte — uma das nações mais fechadas do mundo que busca, a todo custo e apesar da imensa pressão internacional, construir o próprio arsenal nuclear.

— O impeachment é a única maneira de normalizar os assuntos do Estado. É o início de uma faxina nos males da sociedade para reescrever a história — afirmou a presidente do oposicionista Partido Democrático da Coreia DPK, Choo Mi-ae. — Estamos num momento crítico na História, equivalente ao levante pró-democracia de 1960. Direcionaremos nosso foco unicamente para o chamado do povo e nossa missão histórica.

Filha do ditador militar Park Chung-hee, que liderou a Coreia do Sul por 18 anos depois de tomar o poder num golpe de 1961, a presidente é acusada de conluio com Choi Soon-sil, amiga próxima e ex-assessora, para pressionar grandes empresas a doarem às duas fundações criadas para apoiar as iniciativas políticas da mandatária. Park negou qualquer crime, mas pediu desculpas por “descuido nos laços de amizade” com Choi.

Ao longo das últimas semanas, multidões tomaram as ruas da capital sul-coreana, Seul, exigindo a renúncia imediata da presidente, ou o impeachment dela. Caso a Corte Constitucional confirme o afastamento de Park, ela se tornaria a primeira presidente sul-coreana democraticamente eleita a não cumprir um mandato de cinco anos. O ex-presidente Roh Moo-hyun foi afastado pelo Parlamento em 2004, mas o processo foi anulado pelo tribunal máximo do país, que disse que os motivos apresentados não eram suficientes.

Na última terça-feira, os presidentes dos maiores conglomerados empresariais da Coreia do Sul — incluindo Jay Y. Lee, do grupo Samsung — foram sabatinados numa audiência de 13 horas no Parlamento, e negaram que as doações a duas fundações de caridade apoiadas por Park, ambas no centro do escândalo, foram feitas em troca de receber favores do governo. Na quarta-feira, ex-sócios de Choi, a amiga da presidente, testemunharam diante da mesma comissão parlamentar. E afirmaram que ela era excepcionalmente próxima de Park e exerceu tráfico de influência.

“Estas questões domésticas poderiam trazer riscos adicionais para a economia, como travar o consumo e o investimento num momento em que muitas incertezas globais persistem”, afirmou, nesta semana, em comunicado, o Ministério da Economia sul-coreano.

A instabilidade que um prolongado processo de impeachment pode acarretar traz riscos também à geopolítica da região. Uma fonte da Defesa dos EUA afirmou que a Coreia do Norte desenvolveu capacidade de instalar uma ogiva nuclear em um míssil e lançá-lo. Mas que ainda não consegue orientá-lo para o alvo. Desde 2006, Pyongyang efetuou cinco testes nucleares. Além disso, fez, pelo menos, 25 lançamentos de mísseis balísticos, violando resoluções da ONU.

No mês passado, Coreia do Sul e Japão assinaram em Tóquio um acordo para compartilhar inteligência em defesa, grande parte impulsionado pela crescente ameaça de programas nucleares e de mísseis norte-coreanos. E, no começo deste mês, a Coreia do Sul e o Japão anunciaram novas sanções contra a Coreia do Norte, em resposta ao programa nuclear de Pyongyang.

O Parlamento da Coreia do Sul aprovou nesta sexta-feira a destituição da presidente Park Geun-Hye, envolvida em um escândalo de corrupção que paralisou durante meses o governo e provocou grandes manifestações em todo o país. Reportagem: AFP