24/08/2016 20h27 - Atualizado em 24/08/2016 22h04

Colômbia e Farc anunciam histórico acordo de paz

Presidente Juan Manuel Santos anuncia plebiscito para 2 de outubro.
Diálogos de paz duraram quase quatro anos em Cuba.

Do G1, em São Paulo

O comandante das Farc Iván Marquéz (esquerda) e o chefe da delegação de paz colombiana Humberto de la Calle (direita) apertam as mãos nesta quarta-feira (24) em Havana, Cuba, após assinarem o acordo definitivo de paz na Colômbia (Foto: YAMIL LAGE / AFP)O comandante das Farc Iván Marquéz (esquerda) e o chefe da delegação de paz colombiana Humberto de la Calle (direita) apertam as mãos nesta quarta-feira (24) em Havana, Cuba, após assinarem o acordo definitivo de paz na Colômbia (Foto: YAMIL LAGE / AFP)

Depois de quase quatro anos de diálogos em Cuba, os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo da Colômbia anunciaram nesta quarta-feira (24) que chegaram a um acordo de paz definitivo para o conflito armado de mais de 50 anos no país. O acordo deve ser aprovado pela população colombiana, que votará em plebiscito no dia 2 de outubro, segundo anunciou o presidente Juan Manuel Santos em pronunciamento na televisão.

"Chegamos a um acordo final, integral e definitivo sobre a totalidade dos pontos da agenda do acordo geral para o encerramento do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura na Colômbia", anunciaram as partes em um comunicado conjunto lido em Havana, que hospedou as negociações de paz, pelo diplomata cubano Rodolfo Benítez.

O documento foi assinado pelo chefe da delegação de paz do governo colombiano, Humberto de la Calle, pelo chefe da delegação de paz das Farc, Iván Márquez, e pelos diplomatas dos países garantidores do processo, o cubano Rodolfo Benítez e o norueguês Dag Nylander.

Durante o anúncio, Iván Márquez tuitou: "Do conclave de Havana sai fumaça branca. Temos paz".

O documento considera a desmobilização dos guerrilheiros, o abandono das armas e a transformação das Farc em um movimento político, entre outros pontos.

Plebiscito
Logo após o anúncio em Havana, o presidente colombiano Juan Manuel Santos, fez um pronunciamento pela televisão. “Hoje começa o fim do sofrimento, da dor e da tragédia da guerra. A esperança nacional virou realidade. Alcançamos um acordo final para pôr fim ao conflito”, disse.

O acordo deve ser referendado via plebiscito, como foi acertado entre as partes. No discurso, Santos disse que enviará o texto definitivo do acordo para o Congresso já nesta quinta-feira e anunciou o plebiscito para o dia 2 de outubro.

"Será a votação mais importante das nossas vidas", disse.

Se o acordo passar na prova das urnas (para o qual requer ao menos 4,4 milhões de votos afirmativos), será possível dizer que o último conflito armado na América está em vias de ser extinto.

“Devemos esperar com serenidade o veredito da cidadania”, disse Humberto de la Calle, em discurso após assinar o documento. “Serão os colombianos que vão decidir se acertamos”, afirmou. Segundo ele, o documento é "o melhor acordo possível". "Tenho certeza que é o melhor acordo possível, provavelmente todos nós queríamos algo mais (...) mas o acordo alcançado é o acordo viável, o melhor acordo possível".

Acordo histórico
O acordo com as Farc, grupo armado desde 1964 e maior guerrilha da Colômbia, permitirá superar em grande parte um confronto que já deixou 260 mil mortos, quase 7 milhões de deslocados e 45 mil desaparecidos.

Foto do ano passado mostra o presidentre de Cuba, Raúl Castro (centro) com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos (esq) e o comandante das Farc, Timoleon Jimenez (Foto: Desmond Boylan/AP)Foto do ano passado mostra o presidentre de Cuba, Raúl Castro (centro) com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos (esq) e o comandante das Farc, Timoleon Jimenez (Foto: Desmond Boylan/AP)

Entretanto, ainda estão ativos o Exército de Libertação Nacional (ELN) e grupos de crime organizado dedicados ao tráfico e à mineração ilegal. Além das Farc e do ELN, na chamada guerra interna da Colômbia, participaram agentes do Estado e grupos paramilitares de extrema-direita.

Um setor influente na Colômbia, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), se opõe firmemente ao decidido em Havana por considerar que deixará crimes das Farc sem punição.

O acordo é histórico porque desde 1983 o país fracassou em três tentativas de negociar a paz, como informa o jornal "El Tiempo". Essas tentativas ocorreram durante os governos de Belisario Betancur, César Gaviria e de Andrés Pastrana.

Após o anúncio, o presidente americano Barack Obama falou ao telefone com Juan Manuel Santos para o parabenizar pelo acordo. "O presidente reconheceu este dia histórico como um momento crítico no que será um longo processo para implementar totalmente um acordo de paz justo e duradouro que pode fazer avançar a segurança e a prosperidade ao povo colombiano", diz o comunicado da Casa Branca.

Pontos acordados em Havana
Na última semana, as equipes negociadoras das Farc e do governo trabalharam de forma ininterrupta para terminar o acordo.

Os assuntos que ainda estavam sendo discutidos eram o alcance da anistia para as Farc (que exclui os responsáveis por crimes como sequestro, deslocamento e violência sexual) e a participação política dos rebeldes.

O pacto da Havana prevê acordos e compromissos em seis pontos: reforma rural, participação política dos ex-combatentes da guerrilha, cessar-fogo bilateral e definitivo, solução ao problema das drogas ilícitas, ressarcimento das vítimas e Mecanismos de implementação e verificação.

O compromisso alcançado em Cuba estabelece que quem confessar seus crimes diante de um tribunal especial poderá evitar a prisão e receber penas alternativas. Se não for feito dessa forma e forem declarados culpados, serão condenados a penas de 8 a 20 anos de prisão.

Além disso, espera-se que as Farc iniciem seu desarme uma vez que sejam referendados os acordos em um prazo de seis meses contados a partir de sua concentração em 23 áreas e oito acampamentos na Colômbia.

Observadores desarmados da ONU, delegados das Farc e o governo verificarão o processo de abandono das armas, com as quais serão levantados três monumentos.

Um dos fundadores das FARC, o ex-líder (já morreu) Manuel Marulanda, à direita, também conhecido por ‘Tirofijo’, e os comandantes Alfonso Cano, Ivan Marquez e Timoleon Jimenez, em imagem da década de 80 feita em região montanhosa da Colômbia. (Foto:  Alatpress / Via AFP Photo)Um dos fundadores das FARC, o ex-líder (já morreu) Manuel Marulanda, à direita, também conhecido por ‘Tirofijo’, e os comandantes Alfonso Cano, Ivan Marquez e Timoleon Jimenez, em imagem da década de 80 feita em região montanhosa da Colômbia. (Foto: Alatpress / Via AFP Photo)

 

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