"Ou eu enlouquecia, ou poderia fazer alguma bobagem", desabafa Sílvia Ramos, moradora de Campinas (SP) que decidiu se mudar de bairro por não suportar mais o barulho dos carros de som à noite. A falta de bom senso de algumas pessoas da cidade é fiscalizada pela Lei do Pancadão, em vigor desde janeiro deste ano, mas a medida ainda não foi suficiente para acabar de vez com o problema.
"Eu venho pra casa tranquila porque eu vou poder ler um livro, vou poder dormir", conta a moradora traumatizada pelo barulho que fazia parte da vida dela.
suportar mais som alto (Foto: Reprodução / EPTV)
Em seis meses, foram cerca de 230 autuações. Em geral, o barulho começa na noite de quinta-feira e vai até domingo, com maior destaque para o início e o fim da madrugada. A música chega a ficar distorcida por causa do volume alto. Veja flagrantes do abuso no vídeo acima.
Na região do Jardim Novo Cambuí, bairro nobre da cidade onde há bares e restaurantes, a batida tira o sono dos moradores. A monitora escolar Quetea Randi conta que o barulho começa quando já não deveria mais ter nenhum, por volta das 23h30.
"Começa quando é 23h30, mais ou menos, até 1h. Fica aquele som muito alto. E quando chega lá para as 4h30 até umas 5h30, aí é outra vez o som. A gente espera chegar segunda-feira para poder descansar melhor", conta.
Volumes máximos do Pancadão
A Lei regulamentada em janeiro estipula volumes máximos para cada região da cidade, dependendo da atividade. A fiscalização é feita com um aparelho que mede a intensidade do som. Em uma das abordagens, a Guarda Municipal registrou 96.8 decibéis em um bairro onde o máximo era 50.
"De longe você já consegue aferir a quantidade de decibéis acima do permitido. Eles tentam desligar o som ou tentar diminuir o volume, mas já foi aferida a quantidade de decibéis", explica a guarda Ana Paula Menezes Rojo.
O volume permitido varia de acordo com o período diurno, das 7h às 21h59, e noturno, das 22h às 6h59. Respectivamente, áreas de sítios e fazendas podem ter máximo de 40 e 35 decibéis, regiões urbanas com hospitais e escolas 50 e 45 decibéis, área residencial e de hotéis 55 e 50 decibéis, região de comércio 60 e 55 decibéis, locais onde há indústrias 70 e 60 decibéis.
Abrem mão do espaço
Os motoristas de veículos adaptados para receber caixas de som potentes abrem mão do espaço para garantir o som nas alturas. No pátio há modelos que deixaram de ter o banco de trás, o porta-malas e carrocerias para abrigar os alto-falantes e as cornetas.
Um exemplo é a caminhonete que precisou da instalação de duas baterias de caminhão para alimentar a potência esperada pelo som do veículo.
Multa e apreensão
Seis a 10 carros são levados todos os finais de semana para o pátio de veículos apreendidos na Lei do Pancadão. A fiscalização é feita, além da Guarda, pela Secretaria de Urbanismo e pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec).
Os condutores dos veículos flagrados com som alto são multados em R$ 1,4 mil e têm o carro apreendido. Se for reincidente, o motorista paga o dobro, R$ 2,8 mil. O valor também pode ser quadruplicado se o proprietário estiver na segunda reincidência, R$ 5,6 mil.
Somado à multa, os motoristas também têm as despesas para conseguir a liberação do carro no pátio.