Rio Obituário

Morre o vice-prefeito do Rio, Fernando Mac Dowell

Engenheiro sofreu um infarto no dia 13 deste mês e passou por uma angioplastia de emergência
O vice-prefeito do Rio, Fernando Mac Dowell Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo
O vice-prefeito do Rio, Fernando Mac Dowell Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo

RIO - O vice-prefeito do Rio, Fernando Mac Dowell, de 72 anos, morreu no fim da noite de domingo , no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, devido a complicações decorrentes de um infarto agudo do miocárdio. Ele dera entrada na unidade no dia 13 e chegou a passar por uma angioplastia coronariana de emergência. O corpo do vice-prefeito será velado no Palácio da Cidade, em Botafogo, em horário ainda não determinado. O prefeito Marcelo Crivella decretou luto de três dias.

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Preocupado com a mobilidade urbana, Mac Dowell esteve sempre à frente de projetos inovadores na área de transportes. Formado em engenharia civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 1969, ele foi, nos anos 1970, diretor de Planejamento e Projetos do Metrô-Rio, responsável técnico pela implantação de 14 quilômetros da Linha 1 e 23 quilômetros da Linha 2. A repercussão internacional do seu trabalho à frente do metrô o levou a ser o primeiro latino-americano a integrar o Comitê Técnico da Union Internationale des Transports Publics, com sede em Bruxelas, em 1980.

Durante o governo Moreira Franco, ele assumiu a presidência do Departamento de  Estradas de Rodagem (DER-RJ) entre os  anos de 1987 e 1988. No período, ele elaborou o Plano Diretor Rodoviário do Estado do Rio de Janeiro.

No início da década de 1990, a convite do então governador Leonel Brizola, Mac Dowell coordenou  estudos para a implantação da Linha Vermelha e para o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara. No governo Marcello Alencar, foi subsecretário de Obras do estado.

Fora do Rio, Mac Dowell, torcedor apaixonado do Fluminense, foi consultor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), desenvolveu a Análise Sistêmica para a Reavaliação da Expansão da Linha 2 do Metrô-SP e elaborou os estudos do impacto viário das Usinas Termoelétricas EletroBolt e Termoceará para a Petrobras, entre outros projetos.

Apesar de tantas atividades, ele nunca deixou de lado a paixão por ensinar. Foi  docente livre em Engenharia pela UFRJ, professor titular do Instituto Militar de Engenharia (IME) e professor adjunto da Uerj e da PUC-Rio.

— Convivemos entre os anos de 1975 e 1990, como professores do departamento de engenharia da Uerj. Sempre foi um profissional muito qualificado, competente em tudo o que abraçava para fazer e detentor de um conhecimento muito grande sobre transportes — diz o engenheiro e professor José Guerra.

No início dos anos 2000, Mac Dowell integrou a equipe do Plano Diretor de Transportes Urbanos do estado, ao lado do professor de Engenharia de Transporte da PUC-Rio José Eugênio Leal.

— Ele sempre foi muito competente, uma figura muito importante para a área. Assumiu tarefas importantes e cumpriu todas muito bem — elogiou Leal.

Embora tenha ocupado vários cargos no Executivo, Mac Dowell só entrou, efetivamente, para a política nos últimos anos, com a ajuda da deputada federal Clarissa Garotinho (PROS). Os dois se conheceram em 2011, durante uma audiência sobre o acidente com um dos bondes de Santa Teresa. Ele filiou-se ao PR e foi indicado pela deputada a candidato a vice-prefeito na chapa de Marcelo Crivella em 2016. Eleito para o cargo, assumiu também a Secretaria municipal de Transportes, onde permaneceu até janeiro de 2018. Em março, assumiu a liderança do recém-criado Conselho Consultivo Autoridade da Mobilidade e dos Transportes do Município do Rio de Janeiro (CAMTRJ), que tem a responsabilidade de regular as políticas de mobilidade urbana da cidade. Mac Dowel era casado e pai de quatro filhos.

VICE-PREFEITO SE ENVOLVEU EM POLÊMICAS NA PREFEITURA

Durante a sua permanência no cargo de vice-prefeito, Mac Dowell enfrentou algumas polêmicas. Na primeira dela, ainda no primeiro mês na função, ele sofreu medidas da própria prefeitura. O Executivo cobrou, em três ações que tramitaram na 12ª Vara de Fazenda Pública e também na esfera administrativa, uma dívida de R$ 215.483,67 referente ao imposto e à taxa de lixo de uma casa num condomínio de luxo na Barra da Tijuca , que pertencia a Mac Dowell. As dívidas eram referentes a tributos que não foram pagos entre os anos de 2001 e 2016, com exceção do ano de 2014.

No mesmo período, enquanto a prefeitura enfrentava queda de receita devido à recessão, o vice-prefeito estava na lista de inadimplentes com relação ao pagamento do ISS tributo que mais gera recursos para o município. A Fernando Mac Dowell Engenharia e Consultoria Ltda, empresa da Mac Dowell, devia R$ 234.671,26.  Após a publicação de notícias com respeito às dívidas, feitas pelo GLOBO,  ele entrou com uma renegociação e pagou a despesa, de acordo com o site do Tribunal de Justiça.

Ainda no início do governo, Mac Dowell convidou o engenheiro de transportes Paulo Cezar Ribeiro , professor da Coppe/UFRJ para assumir a presidência da CET-Rio. A nomeação de Ribeiro, no entanto, não aconteceu.  À época, Paulo Cezar, que soube através do GLOBO que não ocuparia o cargo , afirmou que o motivo para a não ter sido efetivado foi financeiro. De acordo com ele, que já estava trabalhando na CET-Rio antes da nomeação oficial, a prefeitura não concordou em cobrir com gratificações a diferença entre seu salário de professor e o de presidente da estatal da prefeitura.