11/09/2014 10h57 - Atualizado em 12/09/2014 14h42

Homem parecido e homônimo de assaltante passa 10 dias preso no RN

Jeferson Gil Costa Gomes passou 10 dias preso.
Ele foi solto nesta quarta (10) mesmo antes da conclusão do inquérito.

Felipe Gibson e Heloísa GuimarãesDo G1 RN

Em casa, Jegerson se recupera dos dias que passou preso (Foto: Heloisa Guimarães/Inter TV Cabugi)Em casa, Jegerson se recupera dos dias que passou preso (Foto: Heloisa Guimarães/Inter TV Cabugi)

Suspeito de assaltar um mercadinho no dia 30 de agosto, Jeferson Gil Costa Gomes passou 10 dias encarcerado no Centro de Detenção Provisória de Pirangi, na Zona Sul de Natal. Nesta quarta-feira (10), o jovem de 24 anos foi solto mesmo antes da conclusão do inquérito policial por falta de provas que o ligassem ao crime, cometido a poucas ruas da casa onde mora em Parnamirim, na Grande Natal. A família afirma que o jovem foi confundido com uma pessoa de mesmo nome e características físicas parecidas, e promete processar o Estado do Rio Grande do Norte pela prisão.

Era sábado e Jeferson estava em casa com a mãe e a prima no bairro Santos Reis quando foi abordado por policiais militares. Os PMs procuravam uma pessoa com o mesmo nome do jovem. Conforme os relatos de Jeferson e da mãe, Joana D’arc Gonçalves da Costa Gomes, o jovem foi levado no carro da PM e reconhecido pelo filho do dono do mercadinho como responsável pelo assalto, apesar dos assaltantes estarem usando capacetes na hora do crime. Autuado pelo roubo na Delegacia de Plantão da Zona Sul, que fica no bairro Candelária, em Natal, Jeferson teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.

Depois de 10 dias, a 2ª Vara Criminal de Parnamirim acatou o pedido dos advogados de defesa de Jeferson. Com um parecer do Ministério Público favorável à liberdade provisória do rapaz, a juíza Manuela de Alexandria entendeu que neste momento que não havia indícios suficientes para ligar o jovem ao crime e decidiu pela revogação da prisão preventiva. O alvará de soltura foi expedido, Jeferson solto, mas as lembranças dos 10 dias no CDP de Pirangi permaneceram.

Jeferson passou dez dias preso (Foto: Heloisa Guimarães/Inter TV Cabugi)Jeferson passou dez dias preso
(Foto: Heloisa Guimarães/Inter TV Cabugi)

“Ali você vê que é difícil, sabendo que não tem culpa nenhuma, que está ali injustiçado. Cada dia é uma eternidade. A hora não passa e parece que o tempo para. Não consegue dormir, pensar em outra coisa. Se pensar em casa começa a chorar, entra em depressão como vi um preso lá. Minha mãe chorava quando me via. Aquilo foi o terror. Quem gosta de ver a mãe chorando?”, relata. Jeferson mora com a mãe e os irmãos, trabalha há 7 anos na mesma empresa como técnico de lavanderia e não possui antecedentes criminais.

O crime continua sendo investigado pela 1ª Delegacia de Polícia de Parnamirim. O delegado responsável pelo caso, Ronaldo Gomes, disse ao G1 que vai ouvir a vítima e testemunhas para concluir o inquérito.

Mesmo com a soltura, a Justiça determinou que Jeferson deve cumprir medidas cautelares, pois o crime ainda não foi solucionado. O jovem precisa comparecer aos atos processuais quando intimado, comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço, comprovar suas atividades mensalmente e evitar manter contato com um homem que a polícia acredita ser suspeito do crime.

O crime
De acordo com o relatório da prisão em flagrante feito na Delegacia de Plantão da Zona Sul, o assalto aconteceu no início da tarde do dia 30 de agosto. Dois homens usando capacetes renderam o dono do mercadinho e o filho para roubar o dinheiro do caixa.

Um deles, apontado como sendo Jeferson, deixou a arma no balcão para recolher o dinheiro e o dono do estabelecimento reagiu. O outro assaltante também entrou na luta corporal e levou uma facada do proprietário do mercadinho, que em seguida foi baleado na perna por um tiro disparado por Jeferson, segundo o documento.

O relatório detalha que a dupla abandonou uma das motocicletas usadas no crime no local e o dinheiro roubado caiu na calçada. O proprietário do mercadinho foi socorrido para o Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim, para onde Jeferson foi levado pelos PMs momentos depois para o reconhecimento. O filho do dono do mercadinho o reconheceu como um dos assaltantes.

O documento da DP de Plantão da Zona Sul afirma que o segundo suspeito do crime é um homem que pegou a motocicleta de Jeferson emprestada no dia do crime. O jovem afirma se tratar de um conhecido que pediu o veículo emprestado para fazer um boletim de ocorrência porque sua moto havia sido roubada.

Defesa aponta erros
Os advogados que fazem a defesa de Jeferson, Manoel Fernandes Braga, Renata Kallina Ferreira Oliveira e Rousseaux de Araújo Rocha, afirmam que a Polícia Civil cometeu erros na condução do caso. “O principal foi o chamado termo de apreensão e exibição. Foram apreendidos um celular, que pertencia a Jeferson, e uma motocicleta que estava na cena do crime e não era dele”, afirma Rousseaux Rocha.

Fernandes Braga acrescenta que o pedido para a realização de exame residuográfico nas mãos de Jeferson foi negado na delegacia. O exame, feito no Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), mostraria se havia pólvora nas mãos do jovem, já que ele era apontado como autor do disparo que feriu o comerciante.

De acordo com Braga, foi dito na delegacia que três comerciantes do bairro reconheceram Jeferson como responsável por outros assaltos, no entanto nenhuma das testemunhas foi identificada e prestou depoimento na delegacia. A mãe de Jeferson chegou a procurar pelos comerciantes.

“Fui atrás com uma foto dele, sem dizer que era a mãe. Eu perguntava se o rapaz da foto fazia assalto. Ninguém nunca ouviu falar nada dele. Vamos provar a inocência dele. Meu filho é limpo”, afirma Joana D’arc.

Os equívocos mostrados pela defesa de Jeferson foram levados em conta pelo promotor David Costa Benevides, que enviou à Justiça parecer favorável à liberdade provisória do jovem. O promotor cita as questões que envolvem o reconhecimento do rapaz como responsável pelo crime.

“Os policiais que realizaram a prisão afirmam que o autuado foi reconhecido por outros três comerciantes como autor dos crimes, mas as pessoas sequer foram ouvidas nos autos, sendo impossível confirmar a veracidade dos reconhecimentos”, diz um trecho do parecer, que ainda fala sobre o depoimento do filho do proprietário do mercadinho.

“O depoimento da testemunha é questionável, pois a mesma afirma que durante a ação criminosa os autores usavam capacetes, o que notadamente diminui as chances de identificação correta”, ressalta.

Jeferson recebeu os advogados em casa nesta quarta-feira (10) (Foto: Heloisa Guimarães/Inter TV Cabugi)Jeferson recebeu os advogados em casa nesta quarta-feira (10) (Foto: Heloisa Guimarães/Inter TV Cabugi)