Economia

Caminhoneiros bloqueiam rodovias em protesto contra alta de preços de combustíveis

Manifestação em pelo menos cinco estados pede ainda redução de pedágios e critica más condições das estradas. À noite, 64 trechos em 23 rodovias permaneciam bloqueados
Caminhoneiros parados na BR-262 em Juatuba (MG)
Foto: Douglas Magno / O Tempo Foto: Agência O Globo / Agência O Globo
Caminhoneiros parados na BR-262 em Juatuba (MG) Foto: Douglas Magno / O Tempo Foto: Agência O Globo / Agência O Globo

BRASÍLIA, RIO E PORTO ALEGRE – Caminhoneiros paralisaram rodovias nesta segunda-feira em pelo menos sete estados (Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás) em protesto contra a alta nos preços de combustíveis, pedágios e más condições das estradas. As rodovias do Rio de Janeiro não foram afetadas, segundo informações da Polícia Rodoviária Federal no estado.

A manifestação chegou a bloquear parcialmente rodovias gaúchas, incluindo a BR-392, que liga o porto de Rio Grande ao centro do Rio Grande do Sul. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), em pelo menos seis trechos de rodovias federais e estaduais havia movimento de manifestantes.

Na BR 392, caminhões ficaram parados no acostamento no sentido Rio Grande-Porto Alegre pelo protesto. A PRF estimou 200 veículos no acostamento. Os manifestantes permitiam apenas a passagem de carros de passeio e veículos com cargas vivas e perecíveis. Pneus foram queimados na estrada, o que causou congestionamento durante a manhã.

A manifestação no Rio Grande do Sul — que ganhou força na noite de domingo — ocorreu no entorno de Pelotas e, até as 10h, ainda não atingia a BR 116, principal ligação da zona Sul do Estado com a capital. Segundo a Ecosul, concessionária que administra a BR 392, o congestionamento passava de cinco quilômetros na rodovia nesta manhã.

PARALISAÇÃO AFETOU PORTO


Trecho da rodovia Fernão Dias perto do município de Igarapava, na região metropolitana de Belo Horizonte, paralisado pelo protesto dos caminhoneiros. O engarrafamento é de 17 quilômetros no sentido São Paulo.
Foto: Moises Silva/O Tempo/Folhapress
Trecho da rodovia Fernão Dias perto do município de Igarapava, na região metropolitana de Belo Horizonte, paralisado pelo protesto dos caminhoneiros. O engarrafamento é de 17 quilômetros no sentido São Paulo. Foto: Moises Silva/O Tempo/Folhapress

O protesto também afetou trechos das BRs 386, em Rodeio Bonito, e na BR 468, em Coronel Bicaco. As rodovias são usadas para escoamento da safra de soja até o porto de Rio Grande. Na BR 285, em Ijuí, o trânsito também está lento devido ao protesto. Os manifestantes começaram a movimentação por volta de 6h.

Na RS 569, em Palmeira das Missões, havia bloqueio parcial da rodovia desde as 6h. No domingo, houve bloqueios parciais no Rio Grande do Sul em Seberi, Ijuí e Boa Vista do Buricá – todas cidades no Norte do Estado. Em Seberi, no km 51 da BR-386, a ação chegou a causar uma fila de 400 metros de veículos em ambos os acostamentos da via.

MOTORISTA TEVE PARA-BRISA QUEBRADO

Em Santa Catarina, o movimento iniciou na quarta-feira da semana passada e se estendeu por rodovias do Oeste. No entroncamento da BR 282 e SC 163, em São Miguel do Oeste, o protesto chegou a interromper o trânsito. Apenas veículos de passeio, oficiais e de transporte coletivo eram liberados.

No Paraná, o protesto começou no domingo e chegou a interromper parcialmente o trânsito em pelo menos 17 trechos de rodovias federais. O movimento se concentrou em estradas do Oeste do Estado. Nesta manhã, segundo a PRF no Estado, cinco trechos continuavam com bloqueios.

Na BR 277, no município paranaense de Medianeira, a fila provocada pelo protesto chegava a 6 quilômetros. Um motorista que tentou furar o bloqueio, segundo a PRF, teve o para-brisa quebrado. Em algumas rodovias os manifestantes impediram também o trânsito de carghas vivas e perecíveis.

Agricultores da região Norte do Rio Grande do Sul estão engrossando o movimento dos caminhoneiros. Na BR 392, em São Sepé, cerca de 40 manifestantes distribuíam panfletos criticando a alta de combustíveis e também os casos de corrupção na Petrobras.

SEM LIDERANÇA

Protesto fechou parte da rodovia Fernão Dias (BR-381), na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Foto: Moisés Silva / O Tempo / Agência O Globo Foto: Terceiro / Agência O Globo
Protesto fechou parte da rodovia Fernão Dias (BR-381), na Região Metropolitana de Belo Horizonte Foto: Moisés Silva / O Tempo / Agência O Globo Foto: Terceiro / Agência O Globo

A manifestação de caminhoneiros iniciada na última sexta-feira se expande sem que ninguém, até o momento, assuma o comando do movimento. A União Nacional dos Caminheiros (Unicam), entidade de representação máxima da categoria no país, diz desconhecer quem está à frente do protesto. Já o Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), que em 2012 liderou bloqueios em diversas rodovias, garante que, dessa vez, não está no comando . Enquanto isso, motoristas enfrentam dificuldades para atravessar 64 trechos de 23 rodovias federais, de acordo com o último boletim da Polícia Rodoviária Federal (PRF), divulgado à noite.

A manifestação já atinge 11 municípios de Santa Catarina; dois de Goiás; oito de Mato Grosso; três de Minas Gerais; 12 do Paraná; dois do Rio Grande do Sul; e um do Mato Grosso do Sul. Em Minas Gerais, as pistas estão parcialmente paradas em ambos os sentidos, com trânsito fluindo somente para veículos de passeio, ônibus, carga perecível, carga viva e ambulâncias. O mesmo acontece no Paraná, que já registra congestionamento de 2 quilômetros em Pérola Doeste e de 3 quilômetros em Guarapava.

O presidente da Unicam, José Araújo, conhecido como “China”, teme pelas consequências que um movimento sem liderança pode causar. Em nota publicada em seu site, a entidade alerta para o perigo das manifestações desorganizadas. “Diante de um agravamento desorganizado, não se pode prever os resultados. Antes que o caos total se instale, é melhor que todos os envolvidos assumam suas parcelas de culpa e, em conjunto, caminhem para uma solução que atenda a seus interesses, mas sem se esquecer dos anseios da nação”, diz parte do texto.

O presidente do MUBC, Nélio Botelho, que em 2012 organizou manifestação contra mudanças regulatórias do setor, como a obrigatoriedade de intervalo de 11 horas de descanso ininterrupto a cada 24 horas, não quis falar diretamente com o GLOBO. A atendente da entidade limitou-se a dizer, por telefone, que ele “pediu para informar que apoia a manifestação, mas não está na liderança”, prometendo uma declaração oficial para breve.