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Advogados anônimos e famosos defendem nomes da Lava-Jato

Quem pode lança mão de ‘celebridades’ do mundo jurídico para defesa

Antonio Fernando de Souza, em 2007, como procurador-geral da República no Supremo Tribunal Federal
Foto: Roberto Stuckert Filho / Agência O Globo
Antonio Fernando de Souza, em 2007, como procurador-geral da República no Supremo Tribunal Federal Foto: Roberto Stuckert Filho / Agência O Globo

BRASÍLIA - A divisão do Congresso entre alto e baixo clero se repete na contratação de advogados dos parlamentares que estão na "lista de Janot". Quem pode contrata os mais caros para atuar nos inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) relativos à Operação Lava-Jato. Outros recorrem a amigos mesmo e até a advogado conhecido pela defesa do time de futebol do coração.

Parlamentares reclamam do preço pedido pelos famosos. Alguns afirmam ter ouvido propostas de mais de R$ 1 milhão. Os pagamentos são divididos por fases da investigação e com taxa de sucesso para quem conseguir absolvição.

— Advogado em Brasília começa com R$ 300 mil - reclamou um político.

Jerônimo Goergen (PP-RS) é um dos que preferiu contratar dois amigos, sendo que um deles fará sua defesa de graça.

— Nem fui atrás de figurão porque estou com a consciência tranquila - disse o deputado gaúcho.

Simão Sessim (PP-RJ) também afirma não ter dinheiro para contratar um dos estrelados. Ele escolheu Rafael Almeida de Piro, que tem como caso de maior destaque até agora a defesa do Flamengo na busca pelo reconhecimento do título brasileiro de 1987.

— Confesso que conheci o trabalho dele por essa questão do Flamengo. Fiz essa escolha porque entendo que a causa é simples e não tenho motivo para pagar quantias vultosas. Não posso nem me aventurar com uma celebridade dessas —afirmou Sessim.

Primeiro dos famosos a ser anunciado, o ex-procurador geral Antonio Fernando de Souza destacou-se não por uma defesa, mas pela acusação. Foi ele o autor da denúncia que levou, posteriormente, à prisão de políticos no processo do mensalão. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o contratou como uma grife para mostrar que o acusador do escândalo passado é um dos que acreditam na sua inocência no caso atual.

Já o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), demorou um pouco mais para escolher. Ele optou também por um ex-procurador. Eugênio Pacelli é especialista na área e assina um livro junto com o ministro Gilmar Mendes: "Direito penal contemporâneo - questões controvertidas". Trata-se de uma coletânea de artigos e foi lançado pelo Instituto de Direito Público (IDP), que pertence ao ministro. Além de Pacelli e Mendes, o criminalista Pierpaolo Bottini também é autor desse livro. Na Lava-Jato, Bottini defende Arthur Lira (PP-AL), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. No mensalão, defendeu o ex-líder do governo Professor Luizinho (PT-SP), que foi absolvido.

KAKAY: EXPERIÊNCIA NO MENSALÃO

Outro advogado famoso que já foi escalado por políticos que tiveram seus nomes divulgados na Operação Lava-Jato é Antônio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido pelo apelidado de Kakay. No processo do Mensalão, ele destacou-se ao conseguir a absolvição do publicitário Duda Mendonça. Na Lava-Jato, já havia atuado como advogado de Alberto Youssef, antes do doleiro resolver optar pela delação premiada. Agora, Kakay defenderá os caciques peemedebistas Edison Lobão, Romero Jucá e Roseana Sarney, além do presidente do PP, Ciro Nogueira. O advogado disse que recusou outros clientes devido à necessidade de dar atenção especial ao caso.

— Chegou um momento no qual não tínhamos mais condições de aceitar outros clientes. Optamos no escritório por encaminhá-los para nossos colegas. Trabalhamos numa equipe formada por cinco advogados e é preciso ter tempo para fazer contato com todos os parlamentares que atendemos. São senadores, políticos importantes, e ficam angustiados. Precisamos dar muita atenção a cada uma deles — disse Kakay.

Entre as vantagens esperadas por quem contrata os advogados mais famosos, o trânsito livre no tribunal é uma das principais. Kakay contou já ter se reunido na semana passada com o relator do caso, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki. O advogado pediu a Zavascki que colocasse em julgamento um agravo regimental no qual pede que seja arquivado o inquérito contra Edison Lobão e Roseana Sarney. Após a conversa, Kakay acredita que já no próximo mês poderá ver julgada a primeira tentativa sua de tirar os primeiros clientes da “lista de Janot”.