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Terça-feira, 23 de abril de 2024

Notícias | Agronegócio

Abandonados, armazéns públicos no Piauí servem de casa para moradores de rua

Na terceira e última parte da reportagem sobre o abandono da estrutura da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) , a equipe do Rural Notícias foi até o Piauí mostrar o descaso do governo com o patrimônio público. Em Canto do Buriti (PI), distante 350 quilômetros da capital Teresina (PI), o cenário é ainda pior do que o verificado em Mato Grosso e Goiás. O único armazém da região está abandonado e foi invadido por nove famílias, que moram no local. Hoje, a unidade está completamente estragada, com buracos no teto, rachaduras e sem luz. O imóvel foi construído há mais de 20 anos.

As condições do local chocam. Famílias com crianças se dividem dentro do armazém, com quartos separados por lençóis. Do lado de fora, é possível ver lixo e esgoto escorrendo para a rua. Nem mesmo a cerca de arame farpado que protegia o terreno está lá. Apesar das condições difíceis, os moradores dizem que é melhor ficar ali, do que morar na rua.

– Se eu sair vou para onde? Na época de eleição, aparecem políticos prometendo nos tirar daqui, mas assim que acaba a eleição, todo mundo some – disse um morador conhecido como Jhonny.

Inicialmente, o armazém foi herdado pela Conab da antiga Cibrazen e, depois, doado para o governo estadual. Procurado pelo Canal Rural, o governo afirmou que a posse do bem foi devolvida à Conab, que sequer tem conhecimento deste fato, já que o armazém não consta na lista de imóveis da estatal.

Sem planos para reativar o armazém, o imóvel continua servindo de moradia para as famílias, que esperam uma solução do governo.

– Muita gente fala que aqui foi depósito de milho, arroz e feijão. Não sei desde quando foi abandonado, mas já estamos morando há muitos anos. Só vieram aqui duas vezes, uma para cortar a luz e outra em época de eleição, quando vieram pedir voto – disse uma das moradoras, Maria José Pereira da Silva, que cuida de dois netos e da filha, que também moram no antigo armazém.

O Estado é considerado a última fronteira agrícola do país. A produção de grãos passou de 1,6 milhões de toneladas na safra 2012/2013 para 2,8 milhões de toneladas na safra 2013/2014, uma alta de 78%. Esse crescimento pode ser ainda maior, já que o Piauí possui mais de seis milhões de hectares agricultáveis, que ainda não foram explorados. Hoje, a área utilizada é de 1,3 milhões de hectares.

Além do armazém de Canto do Buriti (PI), outros dois estão desativados: o de Bom Jesus (PI) e o de São João do Piauí (PI). Todos os três ficam no sul do Estado, região tradicionalmente produtora e com uma necessidade maior de galpões para estocar grãos de milho e feijão.

– O produtor é obrigado a vender seu produto por preços mais baixos e, inevitavelmente, na entressafra. Às vezes, esse mesmo agricultor precisa adquirir seus produtos no mercado, no comércio local, por preços bem mais caros – apontou o diretor do Comitê de Pesquisa e Produção da Aprosoja (PI), Emiliano Mellis.

No caso do Piauí, os produtores não sofrem somente com a falta de armazéns para estocar a safra. A falta de galpões da Conab para a distribuição de grãos, especialmente de milho, prejudica os pequenos criadores. Em alguns locais, a seca é tão severa, que os produtores precisam comprar o milho do governo para que os animais não morram de fome.

– Tem que dividir os grãos para os produtores. Quem tem direito a mil quilos por mês, não chega pegar a cota toda, tem que dividir. Às vezes, pegam 600 quilos, 300 quilos. Não dá para suprir a necessidade – explicou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Floriano, Enedina Silva.

O armazém de Floriano é um exemplo. Com capacidade para estocar quase cinco mil toneladas, o silo sofre com as filas dos produtores. Na capital do Estado, Teresina, a situação dos dois armazéns da Conab também é ruim. Em um deles, o milho ocupa pouco lugar dentro do pequeno armazém, tamanha a procura. A espera pode chegar a seis meses, segundo funcionários da própria Conab.

– Isso aqui fica uma loucura. Lota de gente querendo comprar e muita gente espera meses – destacou o servidor, que preferiu não se identificar.

Como está longe dos produtores, a retirada é feita por caminhões, que percorrem o Nordeste entregando o milho aos produtores que se juntaram para fretar o caminhão. No dia em que o Rural Notícias passou por lá, um caminhoneiro estava levando milho para oito produtores, do Piauí e Maranhão.

No segundo armazém de Teresina (PI), funciona a sede da estatal no Piauí. Em um terreno valorizado, próximo ao centro, o antigo armazém acabou virando garagem para os carros dos funcionários.



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