08/09/2014 07h32 - Atualizado em 08/09/2014 07h32

Focos de incêndio aumentam oito vezes na região de Ribeirão Preto, SP

De agosto até início de setembro foram 372 registros; em 2013 foram 46.
Especialista do Inpe diz que seca favorece, mas culpa intervenção humana.

Amanda PioliDo G1 Ribeirão e Franca

Queimadas avançam na região de Ribeirão Preto, SP (Foto: Reprodução/EPTV)Queimadas em matas e terrenos avançam na região de Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/EPTV)

O período prolongado de estiagem, que vem deixando muitos moradores do estado de São Paulo sem água nas torneiras, também preocupa especialistas do meio ambiente pelo alto número de queimadas na região de Ribeirão Preto (SP). Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de 1º de agosto a 2 de setembro foram 373 focos de incêndio em 47 cidades do Nordeste do Estado.

Esse número representa um aumento de oito vezes - ou 710% - em relação ao mesmo período de 2013, quando foram detectados 46 focos em 19 cidades da região. “Nessa taxa, estamos falando apenas dos grandes incêndios que são detectados pelos satélites", afirma Alberto Setzer, pesquisador responsável pelo monitoramento de queimadas no Inpe.

Já nos primeiros dois dias de setembro, três incêndios de grandes proporções atingiram, em menos de 24 horas, áreas de Jardinópolis, Orlândia e Ribeirão Preto. Neste último, o fogo consumiu cerca de 55 hectares da Mata de Santa Tereza, com remanescentes da Mata Atlântica.

Gráfico mostra alta em número de queimadas na região de Ribeirão Preto (Foto: Arte / G1)

Segundo Setzer, “o fato de o clima estar mais seco este ano e da estiagem estar muito mais pronunciada favorece esse aumento. (...) Um clima mais seco como esse é mais fácil para as pessoas usarem o fogo e para o fogo se propagar de maneira mais rápida”. Setzer ainda lembra o “período anormal” que aconteceu entre janeiro e fevereiro desse ano, quando o tempo também esteve bastante seco. “Inclusive, pelas estatísticas, é a pior [seca] em muitas décadas”, garante.

Contudo, ele faz questão de ressaltar que nenhum incêndio acontece de forma espontânea, ou seja, sempre é ocasionada por intervenção humana. “É muito importante deixar isso bem claro. Não existe essa coisa de combustão espontânea, de o fogo começar sozinho. Isso é falso, não existe. Sempre tem alguém por trás dessas queimadas. Ou de propósito ou por descuido”, explica.

Na região, as cidades “campeãs” de queimadas em 2014 foram Ituverava (29), Jardinópolis (27), Guaíra (27), Miguelópolis (23) e Barretos (22). Todas elas aparecem na lista dos 10 municípios com maior número de incêndios. No ano passado, Sertãozinho havia tido o número mais alto de focos, aparecendo na 20ª posição do Estado, com apenas seis focos.

Bombeiros
As corporações de Bombeiros também sentiram o aumento no volume de trabalho. Desde dia 1º de junho, na região de Ribeirão Preto, foram atendidas 1.695 ocorrências de incêndio em vegetação, o que corresponde à área de 4.105,52 campos de futebol.

No estado, o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de São Paulo atendeu a 14.675 incêndios, que queimaram o equivalente a mais de 24.220,31 campos de futebol.

Fogo em todas regiões
Entre as cidades de São Paulo com maior número de incêndios, três são próximas de Ribeirão Preto. “Para São Paulo, se você fizer um balanço desde o começo do ano, os cinco municípios com maior número de ocorrências foram Araraquara, Campinas, Morro Agudo, Ituverava e Guaíra, respectivamente”, relata Setzer.

Ainda de acordo com o monitoramento realizado pelo Inpe, apenas entre 1º e 2 de setembro, 86 novos focos de incêndio apareceram pelo estado. Desde janeiro, já foram 2.864. “Considerando os dados até 31 de agosto, no Brasil todo, desde janeiro desse ano, o aumento foi de 82% em relação ao ano passado. Se você se restringir a São Paulo, esse aumento foi de 146%”, revela.

Recuperação do solo
O especialista ainda adverte para os danos que a repetição das queimadas causa ao solo e às vegetações de cada ecossistema, que contam com pequenas chances de se recuperar. “Vai depender da recorrência das queimadas. Se deixarem essa área que queimou sossegada por algumas décadas, a vegetação se recupera. Mas se o pessoal voltar a queimar todo ano ou mais de uma vez por ano, como acontece em muitos casos, aí não tem nada que se recupere nem os bichos, nem a flora, nem nada”, advertiu.

Imagens aéreas mostram devastação na Mata de Santa Teresa em Ribeirão Preto (Foto: GF Drone/Divulgação)Imagens aéreas mostram devastação na Mata de
Santa Teresa: 1/3 foi destruído pelo fogo, que durou
três dias (Foto: GF Drone/Divulgação)

O pesquisador ainda revela que o número de incêndios no país é uma preocupação em escala global: “Existem alguns estudos indicando que as emissões das queimadas do Brasil são a nossa principal contribuição para essa questão das mudanças climáticas”.

Na região de Ribeirão Preto, o problema parece ainda pior, uma vez que alguns pontos de incêndio são provocados pelos próprios produtores, com a crença de que estão ajudando suas plantações. “Em curto prazo, você tem um beneficio aparente para o solo, devido à concentração de minerais que ficam nas cinzas, por isso que é muito comum você ver essas pessoas de roças pequenas usarem o fogo para queimar antes de plantar. Porém, se você repetir essa técnica por muitos anos seguidos, você acaba empobrecendo o solo, já que são os nutrintes que vão para a atmosfera”, explicou Setzer.

Para coibir essa prática, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) aplica multas que variam entre R$ 100 mil e R$ 200 mil para cada flagrante.

veja também
Shopping
    busca de produtoscompare preços de