21/09/2014 18h45 - Atualizado em 21/09/2014 18h57

Pastoral dos Surdos tem ações que buscam a inclusão em Juiz de Fora

Criada há 13 anos, Pastoral oferece assistência a surdos.
Cursos de Libras e missas com intérprete são algumas das atividades.

Do G1 Zona da Mata

Missa com intérpretes de Libras em Juiz de Fora (Foto: Pastoral dos Surdos/Divulgação)Missa mensal conta com intérprete de Libras
(Foto: Pastoral dos Surdos/Divulgação)

Neste domingo (21) comemora-se o Dia Nacional e Municipal de Luta da Pessoa com Deficiência, em Juiz de Fora. A inclusão é um desafio diário e a Pastoral dos Surdos da Arquidiocese de Juiz de Fora busca promover a acessibilidade por meio celebrações com presença de intérprete, cursos de Língua Brasileira de Sinais (Libras) para a população, além de ações para evangelização dos surdos.

A pastoral foi criada há 13 anos e, desde então, oferece assistência aos surdos. A fundação da pastoral começou com o Monsenhor Vicente de Paulo Penido Burnier. “Surdo de nascença, ele foi o primeiro padre surdo do Brasil e segundo no mundo. Fundou mais de 18 pastorais de surdos no país. É um ícone, faleceu há cinco anos. Ele tinha quatro irmãs, todas surdas”, relatou o padre que está à frente da Pastoral dos Surdos, Carlos Arlindo.

A criação da Pastoral ainda contou o auxílio de duas mães de surdos. “Elas iam às missas e perceberam que não havia intérpretes. Como não tinha acessibilidade, começaram a interpretar para os filhos”, afirmou. Uma delas é a atual coordenadora da Pastoral, Flora Maria Teixeira Alves, mãe de Caroline, de 22 anos. “Soube que minha filha era surda profunda quando ela estava com dois anos. Naquele momento, eu comecei a tentar entrar no mundo dela. Fui a São Paulo aprender Libras”, recordou.

Quando chegou o momento de Caroline fazer a Primeira Eucaristia, Flora procurou a igreja católica no Bairro Bairu. “Sou de berço católico e queria que ela aprendesse os sacramentos da Igreja. Na época, foi informada de que ela não precisaria fazer a catequese, mas eu não aceitei”, contou.

Segundo o padre Carlos Arlindo, a Pastoral no Brasil funciona com muita carência. “A Igreja já manifestou apoio, mas é tudo muito novo. E sou o único na Arquidiocese mais atuante. Tenho que cuidar de mais duas paróquias e dificulta a dedicação a este trabalho”, explicou.

Para Flora, a conquista da acessibilidade é um desafio. “É uma árdua caminhada. Apesar de ensinarmos Libras e estimularmos a formação, não há intérpretes no banco, nas lojas. Se a minha filha sair com um endereço e tiver dificuldade para encontrar, quem irá entendê-la e ajudá-la?”, explicou.

Atividades
Uma missa especial é celebrado uma vez por mês pelo padre Carlos Arlindo, sempre no primeiro sábado, no Seminário Santo Antônio, às 18h. Segundo ele, o público ainda é formado por poucos surdos. O padre comentou que, no entanto, a tradução em Libras durante as missas ainda é um problema. "As pessoas ainda não estão acostumadas. Quando percebem um grupo de surdos, ficam incomodadas. É a falta de consciência”, explicou o padre.

Nas celebrações, Flora é quem faz a tradução em Libras. “A pastoral também tem grupos de dança e coral. O coral já ganhou um festival e tocou com orquestra do Rio de Janeiro. O trabalho da Pastoral tem como foco a conscientização, o olhar para o outro”, destacou a coordenadora.

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As pessoas ainda não estão acostumadas. Quando percebem um grupo de surdos, ficam incomodadas. É a falta de consciência”
Padre Carlos Arlindo. responsável pela Pastoral dos Surdos

A pastoral também possui hoje cinco turmas de Libras com cerca de 120 alunos. Uma nova turma teve início neste sábado (20), quando uma palestra de abertura do curso discutiu a Surdocegueira com o objetivo de conscientizar as pessoas e falar sobre a inclusão e direitos dos surdocegos na sociedade.

O curso teve início há um ano, conforme explicou o padre. “A Libras requer um mergulho profundo. Se não vive, não se aprende. O ensino da Libras conscientiza, sensibiliza e dá acessibilidade para surdos", disse.

Ministrados por instrutores surdos, o curso tem carga horária de 120 horas. Os alunos participam de aulas práticas e teóricas, com teatro, músicas, contação de histórias e viagens culturais. “Antes de aprender Libras, o aluno conhece a estrutura mental do surdo, aprende como eles recebem a informação, como pensam. Cada surdo tem um nível diferente de aprendizado. A maioria dos alunos é de professores, enfermeiros, parentes de surdos”, afirmou.

Os interessados em participar dos cursos oferecidos pela Pastoral podem entrar em contato com a Cúria Metropolitana pelo telefone (32) 3229-5450.

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