Inspirado no drama da crise hídrica, um grupo de 11 amigos paulistanos criou uma marchinha de carnaval durante viagem de férias, no começo do mês. Produziram um clipe para a canção, lançado nesta segunda-feira (26) no YouTube, e pretendem participar do concurso de marchinhas do já consolidado bloco "Nois Trupica Mais Num Cai". A disputa ocorre neste sábado (31), na Praça Victor Civita, na Zona Oeste.
O protesto travestido de humor também será transformado no bloco independente “Sereias do Cantareira”, que estreia no dia 7 de fevereiro, na Rua Gravataí, no Centro.
“Começou com uma brincadeira pensando na sereia, que estaria encalhada no Cantareira, e aí fomos desenvolvendo a ideia”, explica o artista visual Bruno Ferreira, de 28 anos, uma das 11 cabeças criativas.
Segundo ele, o novo bloco quer unir folia ao problema do abastecimento. "A gente não pode esquecer, mesmo sendo carnaval, que a Canteira está secando. Todos nós já passamos por falta de água em casa, é um problema do nosso cotidiano", lamenta.
A ideia ganhou (ainda mais) graça na sanfona do compositor e cantor Marcelo Jeneci, também fundador do bloco. Na letra, o sobrenome do governador de São Paulo dá origem a um irônico neologismo: “Quem vai Alckmizar água de esgoto por aí, do M´Boi Mirim até U do Morumbi?”, questiona a canção.
Para gravar o clipe, dois dos idealizadores saíram em uma espécie de expedição até o reservatório que dá nome à marchinha. Na última sexta-feira (23), o arquiteto e fotógrafo Flávio Raffaelli, de 27 anos, e a diretora de arte Joana Brasiliano, de 28 anos, percorreram a região de Piracaia, Nazaré Paulista, e Bragança Paulista. Na data, Joana, que faz uma das vozes na canção, assumiu o papel da metafórica sereia “seca”.
“Eles foram de carro, conversando com as pessoas, vendo que a represa está realmente muito seca, e que a água vai mesmo acabar. Decidimos fazer uma coisa bem humorada, que as pessoas realmente vissem, e trazer o tema para o carnaval”, relata Bruno Ferreira. O material foi editado de forma coletiva e em poucos dias já catapultou divulgação nas redes sociais.
Para a estreia nas ruas do Centro, os amigos devem criar figurinos relacionados à falta de água. "A gente queria fazer umas fantasias temáticas e levar para o bloco todos os personagens da crise. Teremos a direção da Sabesp, o governador Geraldo Alckmin e vamos improvisar um caminhão pipa de mentira", destaca Ferreira.
Com mote ativista, o grupo já vislumbra vida longa ao bloco, e planeja os temas dos próximos anos. A ideia, de acordo com os fundadores, é sempre transformar os problemas da cidade em marchinhas. Assunto, portanto, é o que não deve faltar.
"Acho que é mais do que continuar com esse tema, a proposta é trazer as questões cotidianas que vivemos em São Paulo para o carnaval: Lava Jato, Homofobia Não, Trânsito, entre outros. Há muitas opções", garantem.