Por thiago.antunes
Rio - Com sensação térmica de 44°C, mais de meio milhão de consumidores no Estado do Rio ficaram sem energia por aproximadamente uma hora, na tarde de ontem. A falta de energia que atingiu pelo menos 11 estados da federação e o Distrito Federal foi causada por uma falha técnica na linha de transmissão que liga as regiões Norte e Sul, no horário de pico de consumo da região Sudeste.

Sem aviso ao consumidor, a Light e a Ampla, que distribuem eletricidade para quase todo o estado, suspenderam o fornecimento em 600 Megawatts e deixaram 580 mil clientes às escuras, entre as 14h30 e as 16h20. No Grajaú, a energia faltou às 18h20; e, depois das 20h, ainda não tinha sido restabelecida.

O apagão desta segunda-feira fez a moradora do Grajaú Nilmar Soares lembrar do racionamento de 2001%3A ‘Se houver outro agora%2C nem imagino o que fazer’João Laet / Agência O Dia

A responsabilidade pelo apagão, segundo as concessionárias, foi do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que determinou o corte. Em nota, o ONS argumentou que o aumento de consumo no horário de pico,aliado a restrições na transferência de energia das regiões Norte e Nordeste para o Sudeste, provocaram a redução na frequência elétrica. Dez geradoras no país foram desligadas, entre elas a Usina Angra 1, que atende ao Estado do Rio.

À noite, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, confirmou a falha técnica. “Houve um problema de equipamento. Se não houvesse essa falha técnica, não teria a queda de energia. Na semana passada, houve um pico de consumo e o fornecimento não foi afetado”, explicou. A Ampla informou que, à tarde, recebeu notificação do ONS para efetuar corte de 100 Megawatts de energia em sua área de concessão. “A interrupção teve início às 14h55 e foi sendo normalizada gradativamente, encerrando-se às 15h55”, explicou a concessionária.

“Estamos até acostumados com a falta de energia, e sempre me previno. Mas hoje (ontem) ninguém avisou nada. Sem rádio e internet, ficamos sem notícias. Muito tempo depois, soube que foi no país todo”, contou o bancário Mário Alberto Sayad, de 40 anos, morador do bairro Paraíso, em São Gonçalo. A Ampla, que atende àquele município, disse que foram atingidas ainda as cidades de Saquarema, Petrópolis, Cabo Frio, Araruama, Campos dos Goytacazes, Iguaba, Mangaratiba, Duque de Caxias, Niterói, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu e Itaboraí.

Nas principais vias de São Paulo%2C semáforos desligados pela falta de energia transformaram o já complicado trânsito em verdadeiro caos FolhaPress

A Light não citou as regiões comprometidas, mas fontes da empresa asseguraram que bairros da Zona Oeste da Cidade do Rio, como Realengo e Bangu; e da Zona Norte, como Guadalupe, foram afetados, além de localidades de algumas cidades da Baixada Fluminense. Às 18h20, a energia elétrica foi cortada no Grajaú. A professora aposentada Nilmar Gomes Couto Soares, de 73 anos, dava entrevista ao DIA quando faltou luz. 

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A falta de informação sobre o corte de energia lembrou o racionamento de 2002. “Acabei de comprar ar-condicionado para a sala e para o quarto, para enfrentar esse calor infernal. Fiquei com receio de não poder usá-los”, ressaltou a aposentada Nilmar.
Especialista explica que corte não tem relação com crise ou calor
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O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ), Nivalde de Castro, explicou que os procedimentos adotados ontem pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) demonstram que se tratou de um problema emergencial.
“O ONS foi informado previamente da situação e orientou a redução para as distribuidoras das regiões Sul e Sudeste. Chamamos isso de corte seletivo”. Segundo Castro, as distribuidoras fazem um mapeamento das áreas menos problemáticas para interromper o fornecimento de luz — lugares sem hospitais ou shoppings.
“Essa é a alternativa adotada quando há problema em oferta de geração de energia. Não tem relação com crise (energética) ou o calor”, defendeu o coordenador.
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De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) , a energia consumida em todo o país foi 7,1% menor na primeira quinzena deste mês, em relação ao mesmo período de 2014. A orientação do especialista é para, em qualquer caso de falta de energia elétrica, o consumidor tirar da tomada os aparelhos mais sensíveis para evitar eventuais danos.
Calor intenso dentro de casa
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“Ficamos sem luz no meio da tarde, às 15h, com um calor intenso”, reclamou a arquivista Mírian Teixeira, de 39 anos. Ela contou que somente a mãe estava em casa quando o fornecimento foi interrompido. “Minha mãe, uma senhora de 76 anos, ficou sem ter como se refrescar. Nem ar, nem ventilador, nem água gelada.”
Especialistas alertam que em casos de quedas de energia, a primeira medida para evitar que aparelhos elétricos sejam danificados é desligá-los da tomada. TVs, DVDs, micro-ondas e CD players, se não desconectados, ficam em modo ‘stand by’, o que, além de consumir energia, causa dano se a corrente voltar intensa ou fraca.
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Outra atitude eficaz é instalar estabilizadores, que amortecem as variações de tensão. Há desde os modelos mais simples até os mais sofisticados. São indicados para computadores, televisões e aparelhos de som. Estabilizadores não devem ser utilizados em geladeiras.
Os consumidores que se sentirem prejudicados com a queima de aparelhos elétricos ou eletrônicos em decorrência da falta de energia elétrica, têm direito de solicitar ressarcimento junto à concessionária de energia elétrica, conforme Resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica e o Código de Defesa do Consumidor. Através do Procon, é possível obter informações detalhadas sobre como agir nesses casos.
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Linha do metrô para em São Paulo
O apagão causou problemas maiores em São Paulo. A AES Eletropaulo reduziu em 700 megawatts a distribuição de energia. O corte representa 10% do que a empresa distribui na capital e Região Metropolitana do maior estado do país em população, atendendo cerca de 20 milhões de pessoas.
Metrô paulista avisa aos passageiros sobre interrupção dos serviços FolhaPress

O metrô paulista foi afetado e a falta de luz interrompeu a circulação de trens nas estações Luz e República. Segundo os operadores do metrô, as demais linhas não tiveram problemas. Os bairros mais afetados em São Paulo foram Alphaville, na Grande São Paulo, Itaim, a região da Avenida Faria Lima, Vila Mariana, Jaçanã e Luz.

A Cemig, responsável pela distribuição de energia em Minas Gerais, também confirmou o pedido de redução do fornecimento de carga. A Copel, do Paraná, confirmou a falta de luz, mas informou que o apagão foi rápido. A Eletrobras informou, em nota oficial, que suas distribuidoras, nos estados do Piauí, Rondônia, Acre Amazonas, Alagoas e Roraima não foram afetadas pelo corte de luz.

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Colaborou Flora Castro