09/08/2014 20h21 - Atualizado em 09/08/2014 20h21

Em asilo do Cabo, pais idosos lamentam distância dos filhos

No local, 18 homens vivem, muitos sem contato algum com as famílias.
Cantor Nando Cordel mantém rotina de visitas a abrigos.

Do G1 PE

Em um asilo no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, este domingo (10), Dia dos Pais, será um dia difícil. Muitos dos idosos que vivem no local lamentam a falta de convivência com os filhos. São pessoas do Cabo, de outras cidades e de outros estados. Muitas histórias unidas por uma tragédia comum: o abandono, como mostrou o NETV 2ª Edição deste sábado (9).

(O G1 e o NETV 1ª Edição querem saber: que surpresa você está preparando para o Dia dos Pais? Registre em vídeo o momento da entrega do presente, a festa da família com seu pai, a alegria dele em ser homenageado, e mande para nós, através da ferramenta VC no G1. Na segunda-feira, os vídeos mais legais vão ser exibidos no NETV.)

O abrigo São Francisco de Assis é mantido pelas irmãs franciscanas do Imaculado Coração de Maria. Hoje é só delas o amor que estes idosos conhecem. Lá vivem 18 homens – quase todos têm filhos que não sabem onde estão, como estão. Não recebem notícias, não veem. Sumiço que, na maioria das vezes, é de toda a família. São 18 vidas que, quando chegou a idade, caíram no esquecimento.

Muitos não falam mais nada, não interagem, estão presentes, mas – ao mesmo tempo – não estão. Um silêncio doído é resposta para perguntas sobre o Dia dos Pais. É complicado falar do que seria melhor esquecer. João Evangelista, alagoano, disse que chegou ao local quando a mulher o deixou e foi com os dois filhos pra São Paulo. O último encontro foi há 30 anos.  "Se eles estivessem na minha presença a coisa era outra, né? Era uma alegria que eu ia ter", reconhece. Com o tempo, as palavras de seu João foram enferrujando.

Já o aposentado José Nascimento ainda consegue abrir o coração. Viúvo, perdeu uma filha e tem um filho, só que ele nunca veio visitá-lo. É como se fosse um ex-filho, sendo que não existe ex-pai. "[Outras pessoas] Vêm visitar o povo todinho que tem aqui. Falam comigo... Ele [o filho] não vem. Eu queria que ele chegasse aqui e perguntasse: 'como é que o senhor vai?'", afirma.

Há seis anos, irmã Cilene da Conceição vive com esses idosos. O tempo dela é pra cuidar das feridas da alma. "Nós somos a família espiritual deles e não dá para suprir toda a carência desses idosos. Tentamos ao máximo, ficamos com eles, lembramos das datas comemorativas, tentamos animar, mas muitos dizem que essas datas nem existem mais", relata ela. "Quando tem família, joga lá para se ver livre daquele peso", afirma Newton Santos, aposentado.

Essa dedicação também faz parte da missão do cantor e compositor Nando Cordel. Há 30 anos, ele visita abrigos. visitas regadas a violão. A atenção que ele traz alegra, ajuda a preencher o vazio que a solidão provoca. Chegou até a compor uma canção sobre o que vê nos abrigos. "Por que não aprender a retribuir, pelo menos começar, o que foi dado amando, fazendo o bem, abraçando, olhando, dizendo 'eu te amo'? Essa é a ideia do universo para a gente. Fazer o bem é melhor que odiar", ensina o compositor.

No domingo, idosos de todos os abrigos devem receber visitas. Claro que emociona o carinho que vem de graça, de desconhecidos. É importante demais esse gesto de solidariedade. Mas não substitui a presença que eles esperam e que daria a tudo um novo sentido.

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