Flávio Cordeiro, de Mogi das Cruzes, perdeu o braço após um ataque skinhead em 2003 — Foto: Jamile Santana/G1
Flávio Cordeiro, de 29 anos, demorou 14 anos para, finalmente, começar a respirar aliviado. Foi em 2017 que ele abriu a sua barbearia em Brás Cubas, distrito de Mogi das Cruzes, com parte da indenização que recebeu por ter sido obrigado a saltar de um trem em movimento por um grupo de skinheads em dezembro de 2003.
Na época com 14 anos, ele perdeu o braço direito e o amigo Cleiton da Silva Leite, de 20 anos, que também foi obrigado a pular do trem e morreu. Enquanto aguarda justiça – já que apenas um dos três condenados está preso – Flávio conta que está "em sua melhor fase".
Virei a página em 2017 é uma série de reportagens do G1 que vai contar histórias de pessoas que, como Flávio, alcançaram um sonho, superaram uma dificuldade ou mudaram de vida neste ano que termina.
— Foto: G1
Ano esperado
"2017 foi o ano que eu esperei por muito tempo. Apesar dos pesares, de uma forma ou de outra, a justiça começou a ser feita. Ainda tem dois dos três agressores soltos, mas estamos caminhando", disse Flávio.
Ele abriu a barbearia em maio e, alguns meses depois, já fez sua primeira ampliação: alugou mais uma sala no andar de cima. Ele já pensa em transformar o negócio em franquia.
Com tema londrino, a barbearia resgata um ambiente predominantemente masculino: enquanto faz a barba ou corta os cabelos (com a boa e velha navalha), os clientes podem tomar uma cerveja, jogar vídeo game ou navegar na internet.
A decoração é rock'n roll e tem as cadeiras robustas e tradicionais das antigas barbearias. O objetivo é atender homens que não se sentem confortáveis em salões unissex.
Atualmente, a equipe tem cinco barbeiros. Na sala nova, no piso superior, ficam à disposição dos clientes duas cadeiras.
"Eu fiquei feliz em conseguir expandir e arcar com as obrigações em pleno ano de crise. Mas a gente trabalhou muito para chegar a esse resultado. Contei com a ajuda dos meus amigos, que são meus parceiros no negócio também. Agora é pensar em começar a franquiar a marca", disse.
Para Flávio, além do fato de ser um jovem empreendedor – com seu próprio negócio aos 29 anos de idade – a conquista também representa uma superação.
"Já fazem 14 anos desde o dia em que tudo aconteceu e vamos sempre seguindo em frente. Eu não sei te dizer se eu estaria melhor ou pior se nada daquilo tivesse acontecido. O que eu sei é que estou bem pra caramba agora e tenho orgulho do que conquistei", disse.
Antes de abrir a barbearia, Flávio trabalhou com logística.
Menos de um ano depois de abrir a barbearia, Flávio Cordeiro já fez a primeira expansão em Mogi das Cruzes — Foto: Jamile Santana/G1
O ataque
Em dezembro de 2003, Juliano Aparecido Freitas, o Dumbão, Vinícius Parizatto, o Capeta, e Danilo Gimenez Ramos teriam obrigado Flávio e Cleiton a pular de um trem em movimento.
Juliano foi condenado a 24 anos e 6 meses de reclusão, em maio de 2011, e preso em 2015. Vinícius, julgado em setembro de 2011, recebeu pena de 31 anos, 9 meses e 3 dias de reclusão. O último a ser julgado foi Danilo Gimenez Ramos, que foi condenado a 26 anos, oito meses e 25 dias.
Segundo os jovens, um grupo de garotos, tidos como skinheads, entrou no vagão. As vítimas usavam cabelos moicanos e camisetas de bandas punks.
De acordo com a denúncia feita pelo Ministério Público, os três acusados gritaram "ou pula ou morre" para Flávio e Cleiton. As agressões foram filmadas pelas câmeras de segurança da CPTM, que registraram o desespero das vítimas. Com medo de serem mortos, os jovens pularam do vagão em movimento.
Flávio Cordeiro abriu o próprio negócio em Mogi das Cruzes com a indenização que recebeu por ter sido obrigado a pular de um trem em movimento — Foto: Jamile Santana/G1
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