Lucca vive um dos melhores momentos da carreira. O atacante da Ponte Preta é um dos artilheiros do Campeonato Brasileiro com 10 gols marcados - ao lado de Jô, do Corinthians. Antes de ter uma carreira consolidada no futebol, porém, ele trabalhou no comércio.

Nascido em Alto Parnaíba, no Maranhão, o jogador acompanhou a família na mudança para Palmas, capital do Tocantins, em busca de um futuro melhor. Lá passou a ajudar o pai em uma pequena padaria.

"Eu ficava umas vezes no caixa, tinha que atender os clientes ou fazer pão. Hoje eu não lembro mais como se faz pão, mas naquela época eu fazia direitinho (risos). Eu fazia de tudo um pouco, mas era bem tranquilo", disse Lucca, ao ESPN.com.br.

"Eu aprendi a dar mais valor para as coisas porque é tudo muito difícil de se conquistar. Foi o que meu pai me ensinou desde novo", afirmou.

Além do trabalho na panificadora, Lucca jogava futebol. Foi assim que acabou arrumando uma vaga na base do Palmas. Após se profissionalizar na equipe de Tocantins e jogar três vezes o Estadual local, ele foi para Ituiutaba-MG (que depois virou o Boa Esporte-MG) no meio de 2009.

"Fui jogar a Copa Minas Gerais por três meses e depois voltei para casa. Do nada, o Criciúma me ligou. Disseram que tinham visto um vídeo meu e gostaram. Fui jogar lá com um contrato de três meses".

Lucca foi jogar a Copa Santa Catarina, mas com muitos gols e boas atuações, rapidamente teve seu vínculo renovado. Em 2010, o atacante atuou algumas vezes pela equipe sub-20 e outras pela principal. No ano seguinte, ele foi emprestado para a Chapecoense na disputa da Série C do Campeonato Brasileiro.

De volta ao Criciúma, Lucca era um dos destaques na Série B de 2012 quando rompeu os ligamentos do joelho direito.

"As lesões foram as maiores dificuldades que passei. Tive duas de ligamento cruzado, uma em cada joelho [2010 e 2012]. Era muito jovem e acabava pensando em coisas não muito boas. Achei que nunca mais voltaria a jogar no mesmo nível. Foi difícil segurar a barra, mas depois vi que dava para continuar e toquei minha vida. Isso não influenciou na sequência da minha carreira", garantiu.

• Dois títulos brasileiros em três anos

Em 2013, Lucca foi emprestado ao Cruzeiro e fez parte do elenco que venceu o Campeonato Brasileiro. O atacante fez 11 jogos e marcou dois gols.

"Eu fui machucado para lá e demorou uns dois meses para eu me recuperar. Por isso, demorei um pouco para conseguir espaço até porque o time estava muito bem também. Eu consegui jogar e foi bem legal", disse.

Como não ficou na Toca da Raposa, o jogador retornou ao "Tigre" e jogou mais duas temporadas e meia. No meio da Série B do Brasileiro, surgiu a chance dele mudar de clube.

"Eu estava em um jogo contra o Macaé e meu empresário me ligou dizendo que o Corinthians tinha interesse. Era a oportunidade da minha vida. Me ajudou bastante. Foi tudo muito rápido, cheguei em um dia, treinei no outro e logo em seguida fui para o jogo".

Nesta época, vazou um vídeo gravado em 2007 no qual Lucca era alvo de gozações de seus amigos por causa do rebaixamento do Corinthians no Brasileiro.

"Eu era torcedor do Corinthians na infância, mas não programei nada disso. Todo jogador um dia já torceu por um time, mas acaba não falando porque o pessoal pode interpretar de outra maneira. Foi maravilhoso. Tinha esse sonho e pude realizá-lo. Jamais vou esquecer", contou.

Indicado por Matheus Bacchi, filho do técnico Tite, o atacante virou um talismã da equipe. Fez 10 jogos e balançou as redes três vezes na campanha que terminou com o título brasileiro.

"Foi o melhor ano da minha vida. Trabalhei com os melhores do Brasil, fui campeão e ainda teve o nascimento da minha filha. O que mais me marcou foi levantar o 'caneco' no Brasileiro. É muito difícil ser campeão. Isso está marcado na minha história", bradou.

• Perda de espaço e saída do Corinthians

No ano seguinte, porém, a situação do jogador mudou após a saída de Tite para a seleção brasileira.

"Em 2016, comecei muito bem. Fiz gols, ajudei os companheiros e joguei a maioria das partidas. Já no segundo semestre, com a mudança de treinador eu perdi espaço. Foi opção do treinador e eu continuei trabalhando para jogar, mas eles pensavam em outros jogadores. Isso é normal no futebol", analisou.

Por isso, Lucca resolveu ir para a Ponte Preta.

"No começo do ano, o Carille optou por colocar outros jogadores. Disse que eu teria que esperar uma oportunidade. Não me senti confortável em somente treinar e às vezes até mesmo ficar de fora dos treinos. Não bati de frente e respeitei. Optei por sair porque quem está jogando existe", filosofou.

"Poderia dar certo ou não. Tive outras oportunidades, mas quis ir para a Ponte. Eu confio muito no pessoal que trabalha comigo. Eles acreditaram que eu poderia aparecer um pouco mais", reconheceu.

A escolha não poderia ser melhor. Nesta temporada, o atacante marcou 20 gols em 38 jogos disputados pela equipe de Campinas.

"As coisas estão acontecendo para mim e vivo um momento muito legal. Espero que continue assim por muito tempo. Eu encaro tudo isso com naturalidade porque sempre trabalho para evoluir. Cada dia eu aprendo alguma coisa nova. Não é sorte", garantiu.

Lucca sabe que terá difícil terminar o Campeonato Brasileiro como goelador máximo.

"Estou muito feliz. É muito bom poder ajudar e fazer gols. Conseguir ser artilheiro de um campeonato com a dimensão do Brasileiro é legal. O pessoal está chegando e eu preciso continuar. Não posso dar mole", observou.

"O mais difícil é manter o nível porque nosso calendário é muito apertado e tem muitos jogos. Você algumas vezes chega cansado com essa maratona e as pessoas não entendem isso. Só querem saber se você vai jogar bem ou não", ponderou.

A Ponte Preta tem 21 pontos no Campeonato Brasileiro e briga para entrar no G-6. Além disso, a equipe de Campinas enfrentará o Sport nas oitavas de final a Copa Sul-Americana.

"Queremos conseguir uma vaga na Libertadores e coisas grandes. Sabemos que é difícil, mas nossa equipe tem evoluído cada vez mais", analisou.

Lucca ainda não sabe o que fará após o final do empréstimo, no final deste ano. "Se vou voltar ao Corinthians só o tempo poderá dizer", finalizou.