Em São João Del Rei, cidade mineira conhecida pela arquitetura colonial histórica, um edifício moderno, que parece uma casa flutuando no ar, chama a atenção na paisagem. Erguido sobre o prédio de uma cafeteria que já existia no local, o imóvel de 84 m² foi feito usando a técnica de steel frame, que usa estruturas de aço ao invés tijolos e concreto.
"O projeto possui uma estrutura leve, visto que foi executado sobre uma construção preexistente, e isso possibilita a materialização de sua conceituação, que propõe uma casa 'no ar', ou seja, suspensa e leve", destaca a arquiteta Lígia Agostini, do escritório Casa Noar (@acasanoar), que ocupa o edifício.
Todo a obra foi realizada com a cafeteria, chamada Cafexó, em funcionamento, com poucas intervenções nas atividades do comércio. "É uma técnica prática, rápida, limpa e seca, que impacta o mínimo possível o ambiente do entorno, efetivando seu caráter sustentável", comenta Lígia.
A técnica de steel frame, chamada de construção à seco, também é conhecida pelo seu baixo impacto ambiental, uma vez que reduz o consumo de água e a produção de resíduos. A execução do projeto contou, ainda, com mão de obra e matéria-primas locais, fechando o ciclo de sustentabilidade.
"Uma estrutura montada em camadas, como o steel frame, traz praticidade tanto na construção quanto na manutenção, sendo as instalações elétricas e hidráulicas acessíveis de forma que modificá-las segue o ideal de gerar o mínimo de transtorno e resíduos possíveis", fala Lígia.
A fundação foi feita em um grande poço aberto no terreno rochoso, de onde saíram pilares redondos de concreto e aço de 6 m de comprimento, passando pelo interior da cafeteria. Já a aparência de casa foi conquistada graças à cobertura simulando um telhado de duas águas e às grandes janelas.
Um dos desafios do edifício “flutuante” foi a entrada do pavimento superior, solucionada com uma escada caracol de policarbonato, que faz a ligação entre os blocos de forma independente.
"Ela foi construída sem perfurar o pilar, de importância estrutural, e, para isso, usou-se das braçadeiras, que apenas apertam a estrutura vertical e permitem que a escada se desdobre em volta dela", explica.
Além da arquitetura limpa, a Casa Noar teve um apelo urbanístico, contribuindo para a revitalização da Rua Cristóvão Colombo, que fica em uma área mais degradada e marginalizada da cidade, à margem de seu centro histórico preservado.
"Em 2009, a cafeteria iniciou um processo de reativação da rua como um destino. Em 2023, com o acréscimo da Casa Noar, a rua passou a ser ainda mais frequentada, tendo sua vida e seu movimento reativados, com um público diverso atraído tanto pela peculiaridade de sua estrutura quanto pelos eventos e atividades que ali ocorrem", explica.
O paisagismo da praça abaixo do escritório foi essencial para ligar o edifício com o entorno, trazendo espécies nativas da Mata Atlântica e do Cerrado para compor com a vegetação local. "Outro fator importante para o conforto urbano nessa área foi a iluminação do edifício, tornando o ambiente seguro, movimentado e com grande fluxo de pessoas durante a noite", destaca a arquiteta.
A parte interna da Casa Noar traz uma decoração minimalista e um layout funcional, dividido em sala principal, cozinha, área de arquivos e impressão, recepção, sala de reuniões e administração.
As amplas janelas do escritório trazem luz natural e ficam voltadas para o sol da manhã, assegurando o conforto térmico nos meses de calor e um ambiente aquecido durante o inverno.
"A ergonomia foi um ponto-chave para beneficiar os fluxos, as trocas entre os funcionários e uma setorização que mantivesse o escritório organizado e com bom funcionamento, englobando todas as usabilidades que um arquiteto necessita no seu dia a dia", finaliza Lígia.