Por G1 Ribeirão e Franca


Polícia Federal faz operação contra fraudes em contratos agrícolas na região de Ribeirão

Polícia Federal faz operação contra fraudes em contratos agrícolas na região de Ribeirão

Ao menos 90% dos contratos de financiamentos agrícolas concedidos pelo Banco do Brasil e que são investigados pela Operação Turbocred da Polícia Federal (PF), no valor total de R$ 59 milhões, foram fraudados entre 2013 e 2015.

A informação foi confirmada pelo delegado Victor Hugo Alves, da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor), em coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (31), em Ribeirão Preto (SP).

Em nota, o BB informou que colabora com as investigações e que quaisquer informações adicionais podem ser obtidas com a autoridade policial.

Um gerente regional e dois ex-superintendentes do BB estão entre os investigados, além de servidores, ex-funcionários e pessoas que atuavam como “laranjas”, ou seja, tinham os nomes usados para obtenção dos empréstimos.

Ao todo, 39 mandados de busca e apreensão foram cumpridos nesta terça-feira em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Espírito Santo e Goiás, durante a segunda fase da Operação Turbocred. Fraudes semelhantes já foram identificadas em Goiás e no Ceará. Destes, 33 foram na região de Ribeirão Preto.

Segundo o balanço parcial da Polícia Federal, dos 162 contratos analisados - 149 de financiamentos agrícolas e 13 de outras modalidades -, houve desvios em pelo menos 145.

“A documentação e os contratos que estavam sob suspeição foram encaminhados à perícia da Polícia Federal para que fossem analisados. Esses contratos somam R$ 59 milhões e os peritos constataram que em 90% deles há fraudes”, diz o delegado.

Banco do Brasil — Foto: REUTERS/Pilar Olivares

Deflagrada em maio do ano passado, a Turbocred é um desdobramento da Operação Golden Boy, que prendeu cinco pessoas, entre elas dois ex-gerentes do BB, em dezembro de 2015, em Guará (SP) e Franca (SP). Ambos foram soltos quatro meses depois.

Na época, a PF informou que as fraudes desviaram R$ 35 milhões dos cofres públicos. Agora, segundo o delegado, uma auditoria independente do BB identificou prejuízo de R$ 44 milhões. Os contratos eram firmados, principalmente, nas agências em Morro Agudo (SP), Guará e Franca.

“Depois da primeira fase da Operação Turbocred, houve uma alteração nos procedimentos do Banco Central para aprovação desse tipo de financiamento. Os peritos constataram que, mesmo assim, houve descumprimento das normativas”, explica Alves.

Documentos apreendidos na 2ª fase da Operação Turbocred foram levados à sede da Polícia Federal em Ribeirão Preto — Foto: Reprodução/EPTV

O esquema

Alves afirma que os suspeitos tinham três maneiras de fraudar os contratos de financiamentos agrícolas. Uma delas era solicitar crédito para custear atividades agrícolas que nunca existiram, ou imóveis próprios, só que arrendados a terceiros.

“A segunda modalidade era o financiamento também para custear atividades agrícolas inexistentes, mas imóveis de terceiros de boa-fé. Nesse caso, a pessoa não tem o imóvel rural e não tem o arrendamento, mas falsifica, frauda o contrato de arrendamento”, diz.

Além disso, a PF também identificou empréstimos destinados a propriedades rurais que não tinham capacidade de suportar todos os investimentos agrícolas que constavam no contrato.

Os delegados da Polícia Federal Victor Hugo Alves e Edson Geraldo de Souza durante coletiva em Ribeirão Preto — Foto: Reprodução/EPTV

“É interessante destacar que, em alguns casos, houve o pagamento de vantagens ilícitas, ou seja, propina, para o funcionário do Banco do Brasil liberar esse empréstimo. A organização é bem estruturada, cada pessoa tem sua função.”, completa.

Alves afirma, porém, que a PF ainda não identificou a origem do esquema ilícito, ou seja, se a fraude foi planejada por servidores do BB e então oferecida a terceiros, ou se um suposto cliente propôs aos servidores do banco.

“A gente está iniciando um mutirão de oitivas entre hoje [terça] e quarta-feira, e dezenas de pessoas devem ser ouvidas. O fato é que foi comprovado que, em alguns casos, havia conluio entre funcionários e clientes na obtenção desses empréstimos para financiamento de produções fictícias”, conclui.

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